Sobre anjos e pagode
Desejei que dormisse com os anjos do Senhor, tipo aqueles que Isaías viu, os de três pares de asas, que velassem pelo seu soninho gostoso, que protegessem a ela e sua ninhada (5 filhos pequenos, o mais velho não devia ter 6 anos!), também que seu barraco amadeirado fixado com pregos enferrujados construído por cima do mais pútrido córrego, não viesse a pique naquela madrugada, que prometia despencar um aguaceiro dos infernos, e que os ratinhos não lhes mordessem enquanto ninavam aqueles serezinhos favelados...desejei tudo isso em nome de Jesus, amém!
Na verdade, enviei a mensagem através do aparelho celular (tão em voga nestes tempos), estava doida para sair comigo, convidava me amiúde para irmos a um festivo pagode lá na quebrada, para tomar cerveja, beber caldo de mocotó e depois sexo. Sentia por ela, um misto de tesão e nojo. Era bem feita de corpo, com uma cintura larga e uma rabaça bem volumosa, no entanto, vivia com os olhos empastados de remela, o que me deixava recalcitrante quanto a um encontro íntimo.
Não deve ter lido a mensagem inteira, deduzo. Não percebeu quão nobres eram os meus desejos de proteção, de bons sonhos, de anjos alados cantando e o caralho...respondeu-me concisa, terrivelmente objetiva: “Amém, e o pagode?”
Trata-se de uma bela frase, não acham?