Eucaliptol para pulmões, quartos e corredores

Sempre me perguntei sobre a vida hospitalar. Menino eu sofri uma rara cirurgia. Procedimento novo para o momento exótico e extravagante em que se encontrava a cirurgia plástica. O ambiente hospitalar ficou guardado na memória entre a salvação e o medo dos corredores, macas, ferrinhos. Por que tanta brancura? A severidade necessária vira “brandura”, respondia minha mãe com trocadilho dispersivo sobre o excesso de branco. Cinza em tons metais durante o trajeto ensanguentado fisgou minha carne dolorida. Choravam em torno de mim.

A comida hospitalar é sinônimo de comida ruim. Por que precisa ser assim? A completa hospitalidade descobriria anos mais tarde, existia, simplesmente era mais cara. Um nível acima e tudo começava a valer de modo constrangedor.

Menino. Observei com perplexidade o movimento de vai e vem da ambulância anunciada pelo triste uivo. Na verdade o hospital lembrava uma fábrica, aonde às pessoas chegavam, e logo, recebiam agulha e soro no braço com tala. Algumas inchavam... Aos oitenta e nove anos Dadinha bebia água como passarinho. Quase nunca bebia. Apenas um cadinho por dia. Quando baixou o hospital tomou tanto soro que seu corpo curvado e pequenino duplicou de tamanho. Talvez um pouco de soro, administrado cuidadosamente de acordo com... Quer saber mais do que os médicos que estudam anos e anos. Era repreendido.

Chegava acreditar na hipótese de modismo em termos de medicação. Lítio para todas e todos. Menino espera aqui enquanto vou consultar. A primeira que demorou lá dentro saiu com uma papeleta rabiscada balbuciando: lítio. A segunda: lítio. Mamãe não escaparia do lítio. Está na moda o lítio, julguei.

Veio à peste com esforços de separá-la da gripe através do noticiário. Alguém descobriu que pacientes com problemas respiratórios reagem positivamente de bruços para aliviar a falta de ar. Em série os pacientes são postos em tubos e padronizados. Uns morrem e outros continuam. O menino burrinho ficava observando a indústria dos movimentos compassados. Caprichava: falta eucaliptol. O quarto de quem sofre de problemas respiratórios deve ser limpo com eucaliptol. Logo após um espirro deviam criar o “spray” já na máscara, e que liberasse eucaliptol. Dificilmente a moda do álcool gel suplantaria outra nova perspectiva nesse combate aguerrido contra o invisível mal.

O menino retornava para casa e no isolamento subia na goiabeira do pátio. No galho mais firme e alto passava horas inteiras repetindo: eucaliptol. Tanta plantação de eucalipto e pouco eucaliptol. Aplacava esta necessidade profunda de criar internamente a salvação para o bicho invisível avassalador com eucaliptol. Precisava do pensamento heróico como todos. Ser fortalecido contra as estatísticas crescentes e mórbidas. Bom mesmo é eucaliptol.

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