QUARENTENA COMPULSÓRIA
Eu vou descer! Sim, vou, p'ra falar "nós",
Ora, já que estou só e que estão sós,
Então vou desfazer essa distância;
Fui posto em quarentena compulsória,
E a glória solitária não é Glória,
(Compartilhá-la-ei!...) Eis a abundância.
O caminho lógico, mais racional e ponderado, para mim, é o do agnosticismo. Por isso mesmo é mais raro do que ateísmo ou a crença. Primeiro, porque não é taxativo quanto à existência ou não de uma inteligência ao mesmo tempo extra e intra-cósmica. Segundo, porque a unidade-plural da divindade é um oximoro. Terceiro, e mais importante: porque é inconcebível a noção de um demiurgo que se rebaixa à condição de sua criatura mais precária (porquanto distante da natureza), a saber, o ser humano. Guardada essa consideração, me dou ao absurdo da solidão como causa sacrificial e primordial de toda criatividade: se o Cordeiro foi imolado antes da fundação do mundo (I Pedro 1:20), e o ser humano, pela presunção, arrogou-se o bastante para crer em seu "projeto causa-sui" (BECKER; em "A negação da morte"), ao longo de milhares e milhares de anos de evolução, então, ambos - Criador e criatura - provaram a solidão em algum nível. Dela, o homem produziu sentidos, mitos, sistemas políticos e religiosos etc. Heine, poeta alemão, escreveu sobre a solidão do Criador que, para curar-se de Sua doença isolacional, criou tudo o que existe. Era necessário, portanto, que algum dos lados cruzasse a linha para interromper o isolamento. E só poderia ser o lado que gozasse de humildade para dar o braço a torcer - na Cruz. O sacrifício é a causa das coisas. Não é um fim, mas o princípio. A expressão temporal de Jesus crucificado é a justificativa histórica para aquilo que precede e transcende tempo e espaço (o amor). Deus, sendo o Todo, se manifestou no aspecto desprezível de um homem pobre e ignorado pelos proeminentes de sua época. Um "ninguém", do ponto de vista cultural de seu tempo, como predito por Isaias 53. Essa conexão entre o muito grande e o muito pequeno é instigante e o melhor atalho para o infinito. Big Bang é uma explosão inaugural do espaço-tempo, a partir da singularidade do amor que sacrifica o absoluto em nome da relatividade de uma temporalidade-espacial (que, embora sejam medidos em bilhões de anos e de anos-luz, ainda assim são limites).