UMA CERTA MÔÇA DO INTERIOR
Nascida e criada no interior, era ela uma caboclinha bonita.
Cabelos longos, olhos ligeiramente esverdeados, cintura e pernas muito bem torneadas.
Arrancava alguns suspiros dos bebuns do “Bar e armazém Bom Sucesso” mais conhecIdo por “Bar do Miro lôco”.
Assim, a cada vez que cruzava pela estradinha de chão, ouvia as mais escancaradas cantadas.
Fingia não gostar, mas no fundo...Adorava.
Quando estava de bom humor até respondia com aquele seu linguajar característico quando a chamavam de linda:
- “É ruim de sê” e sorria mostrando as belas arcadas dentárias.
Um certo dia, a convite de uma amiga que trabalhava em casa de família na capital, engambelou-se e seguiu para Curitiba para trabalhar na luxuosa casa de um casal.
Antes de partir, fez uma despedida no “Bar do Miro lôco”, onde rolou muita cerveja e até alguns “ciscos nos olhos” por conta de sua partida.
Em lá chegando, ela que acostumara-se a espreitar o brilho das asas das beronhas sob o sol do meio dia
na bacia com a louça suja do almoço, quase teve uma síncope quando deparou-se com os ladrilhos, os azulejos, as bacias e torneiras de metal na casa onde iria desempenhar suas tarefas.
Pensou em retornar a pé, mas criou coragem e foi ficando por lá.
A dona da casa, generosa, e percebendo as carências da moçoila, lhe foi ensinando e aos poucos a interiorana já dominava a arte da limpeza, chegando mais tarde até a cozinhar para o casal.
Eram um juiz e uma advogada,famosos, os seus patrões.
Não demorou ela ficou fascinada com o linguajar que ouvia durante as refeições.
Adorava tudo aquilo e pensava no dia em que mostraria aos pinguços do “Bar do Miro lôco”, sua finésse, sua elegância, enfim...
Comprou uma caderneta e foi , aos poucos ,anotando tudo o que achava bonito:
Assim constavam em suas anotações, termos do tipo:Posterior, infalivelmente, data vênia,
Incomensurável, dentre outros.
Um dia mostraria àquela capiauzada, quem era ela agora.
Uma dama elegantérrima !
Já se passavam uns tres anos depois de sua partida, quando surgiu a oportunidade de fazer uma visita à família.
Os cabelos, dantes longos e negros, cortados agora à moda “Pigmaleão 70” ganharam um colorido castanho quase avermelhado.
A cintura e as pernas, muito bem torneadas, ao invés dos vestidos de chita,apertavam-se em calças jeans, blusinhas de renda e os pés guardavam-se em sapatos de sola e
saltos “Anabela”.
Rescendia ao “Cabochard” que ganhara de presente da patroa.
Um taxi a deixou na porta da casa. Já era quase noitinha e a mãe havia imolado uma galinha caipira para o jantar.
A noite era morna e depois da janta a família postou-se na varanda para conversar e descansar.
Iniciam- se, então, as pérolas da bonitona.
O irmãozinho mais novo, todo encantado, aponta o dedo para o céu, mostrando aos pais e a irmã.
-Olhem ! Olhem para o céu ! Vejam...Uma estrelinha colorida andando entre as núvens.
-Não seja “nhengo” meu irmão! Que estrelinha,que nada! Aquilo é um “avião notúrnico”.Lá em Curitiba passa um monte deles toda noite.E tem uns bem grandão!
Depois de massacrar a visão poética do maninho , foram todos se deitar.
Em sua cabeça, a única coisa que se passava,era o show de intelecto que desejava mostrar à peãozada do bar no dia seguinte.
Tardinha.
O Bar do Miro lôco, lotado !
Há peões sentados nas soleiras de janelas, nas escadas, rolam cerveja, cachaça e um bilhar a todo vapor.
A moça em sua indumentária moderna, empina o nariz (não quer dar confiança pra gente rústica- pensa com seus botões).
Quase nem lhe reconhecem,dado à mudança.
O perfume,em excesso, abre alas à bonitona.
O cãozinho do Miro loco, não acostumado com estas “elegâncias” avança-lhe latindo muito.
Chegara a hora:
Em voz alta, para que fosse ouvida, ela desata:
- Sai !!! Cachorrinho posterior. Data vênia ! Não seja infalivelmente, seu...Incomensurável.
Perplexos os bebuns quase perdem a fala, espiam , de queixos caídos, aquela beldade que fala bonito.
Até que um deles comenta:
-Mais quetar a mudança da fia do Arquimedes !
Miro loco complementa:
-Foi pra cidade grande, engoliu um confissionário !
Diante das caras estarrecidas que lhe fazem, ele explica:
-Confissionário é aquele livrão grosso que tem o significado das palavra, cambada de nhengos que nunca sabem de nada.
E como o cãozinho continuava irredutível, Miro loco recomenda à moça.
-Enfia o pé na bunda desse cachorrinho de merda que ele já se “açussega”
E pra fazer um galanteio profere em voz alta:
-Mais você já vortô bunita da capitar.Cherosa e com esse cabelinho de pato quando chove”.
Benza Deus !
Nascida e criada no interior, era ela uma caboclinha bonita.
Cabelos longos, olhos ligeiramente esverdeados, cintura e pernas muito bem torneadas.
Arrancava alguns suspiros dos bebuns do “Bar e armazém Bom Sucesso” mais conhecIdo por “Bar do Miro lôco”.
Assim, a cada vez que cruzava pela estradinha de chão, ouvia as mais escancaradas cantadas.
Fingia não gostar, mas no fundo...Adorava.
Quando estava de bom humor até respondia com aquele seu linguajar característico quando a chamavam de linda:
- “É ruim de sê” e sorria mostrando as belas arcadas dentárias.
Um certo dia, a convite de uma amiga que trabalhava em casa de família na capital, engambelou-se e seguiu para Curitiba para trabalhar na luxuosa casa de um casal.
Antes de partir, fez uma despedida no “Bar do Miro lôco”, onde rolou muita cerveja e até alguns “ciscos nos olhos” por conta de sua partida.
Em lá chegando, ela que acostumara-se a espreitar o brilho das asas das beronhas sob o sol do meio dia
na bacia com a louça suja do almoço, quase teve uma síncope quando deparou-se com os ladrilhos, os azulejos, as bacias e torneiras de metal na casa onde iria desempenhar suas tarefas.
Pensou em retornar a pé, mas criou coragem e foi ficando por lá.
A dona da casa, generosa, e percebendo as carências da moçoila, lhe foi ensinando e aos poucos a interiorana já dominava a arte da limpeza, chegando mais tarde até a cozinhar para o casal.
Eram um juiz e uma advogada,famosos, os seus patrões.
Não demorou ela ficou fascinada com o linguajar que ouvia durante as refeições.
Adorava tudo aquilo e pensava no dia em que mostraria aos pinguços do “Bar do Miro lôco”, sua finésse, sua elegância, enfim...
Comprou uma caderneta e foi , aos poucos ,anotando tudo o que achava bonito:
Assim constavam em suas anotações, termos do tipo:Posterior, infalivelmente, data vênia,
Incomensurável, dentre outros.
Um dia mostraria àquela capiauzada, quem era ela agora.
Uma dama elegantérrima !
Já se passavam uns tres anos depois de sua partida, quando surgiu a oportunidade de fazer uma visita à família.
Os cabelos, dantes longos e negros, cortados agora à moda “Pigmaleão 70” ganharam um colorido castanho quase avermelhado.
A cintura e as pernas, muito bem torneadas, ao invés dos vestidos de chita,apertavam-se em calças jeans, blusinhas de renda e os pés guardavam-se em sapatos de sola e
saltos “Anabela”.
Rescendia ao “Cabochard” que ganhara de presente da patroa.
Um taxi a deixou na porta da casa. Já era quase noitinha e a mãe havia imolado uma galinha caipira para o jantar.
A noite era morna e depois da janta a família postou-se na varanda para conversar e descansar.
Iniciam- se, então, as pérolas da bonitona.
O irmãozinho mais novo, todo encantado, aponta o dedo para o céu, mostrando aos pais e a irmã.
-Olhem ! Olhem para o céu ! Vejam...Uma estrelinha colorida andando entre as núvens.
-Não seja “nhengo” meu irmão! Que estrelinha,que nada! Aquilo é um “avião notúrnico”.Lá em Curitiba passa um monte deles toda noite.E tem uns bem grandão!
Depois de massacrar a visão poética do maninho , foram todos se deitar.
Em sua cabeça, a única coisa que se passava,era o show de intelecto que desejava mostrar à peãozada do bar no dia seguinte.
Tardinha.
O Bar do Miro lôco, lotado !
Há peões sentados nas soleiras de janelas, nas escadas, rolam cerveja, cachaça e um bilhar a todo vapor.
A moça em sua indumentária moderna, empina o nariz (não quer dar confiança pra gente rústica- pensa com seus botões).
Quase nem lhe reconhecem,dado à mudança.
O perfume,em excesso, abre alas à bonitona.
O cãozinho do Miro loco, não acostumado com estas “elegâncias” avança-lhe latindo muito.
Chegara a hora:
Em voz alta, para que fosse ouvida, ela desata:
- Sai !!! Cachorrinho posterior. Data vênia ! Não seja infalivelmente, seu...Incomensurável.
Perplexos os bebuns quase perdem a fala, espiam , de queixos caídos, aquela beldade que fala bonito.
Até que um deles comenta:
-Mais quetar a mudança da fia do Arquimedes !
Miro loco complementa:
-Foi pra cidade grande, engoliu um confissionário !
Diante das caras estarrecidas que lhe fazem, ele explica:
-Confissionário é aquele livrão grosso que tem o significado das palavra, cambada de nhengos que nunca sabem de nada.
E como o cãozinho continuava irredutível, Miro loco recomenda à moça.
-Enfia o pé na bunda desse cachorrinho de merda que ele já se “açussega”
E pra fazer um galanteio profere em voz alta:
-Mais você já vortô bunita da capitar.Cherosa e com esse cabelinho de pato quando chove”.
Benza Deus !