Há tanto assunto...

Se eu pudesse falar de política, é certo que o Brasil seria um prato feito com esta situação esdrúxula em que o presidente da República faz oposição ao seu próprio governo e, frequentemente, desautoriza, com exemplos, o que o seu Ministério da Saúde apregoa com eficiência, ou seja, o isolamento social como única arma de que dispomos, no momento, para conter o avanço desta pandemia que assola a humanidade.

Se eu pudesse falar de economia, é certo que bastaria olhar para o comércio fechado e dizer do drama que as pessoas vivem por saberem que, se já não vivem no bolso o peso da crise, terão de enfrentar brevemente dificuldades financeiras, ressalvadas as ilhas de riqueza construídas pelo capitalismo desumano e predatório.

Se eu pudesse falar dos profissionais da saúde, diria que vê-los na faina cotidiana do bem – em momento tão difícil – engrandece suas vidas e seus ofícios aos olhos da humanidade, atenta às verdadeiras vocações, que não fogem da luta que, se por um lado desglamouriza a ritualística das funções, por outro, certamente as inscreve no panteão dos reconhecidos heróis.

Se eu pudesse falar da imprensa, diria que cumpre, com dignidade e coragem, muito bem o seu papel de informar sobre o minúsculo inimigo de todos nós. São estatísticas nacionais e mundiais, recomendações sobre a nova etiqueta social e sobre a luta da ciência replicadas à exaustão, para que todos nos acautelemos.

Se eu pudesse falar com um leitor, diria para tentar ir levando a vida, informando-se, sim, é verdade, mas sem excessos, porque um mínimo de tranquilidade é enorme patrimônio nestes tempos. Desligar a tevê, por horas, dia, talvez alguns dias e nos recolher em reflexões e preces – sem baixar a guarda – talvez nos deixe, embora conscientes do mal, mais distantes um pouco dele...

Se eu pudesse escolher um modelo, um exemplo, para escrever muito sobre ele, falaria de um padre italiano, que foi citado brevemente nos noticiários. Sei que era idoso e se chamava Giuseppe Berardelli. Ele ganhara um respirador de um dos paroquianos. Simplesmente, pediu que usassem o aparelho em um irmão jovem. Meu bom santo italiano, você é um exemplo de amor ao próximo e a Deus, pois o seu desprendimento é a prova maior de que seus sermões exortando a fé em Deus eram todos plenos da mais santa sinceridade.

Se eu pudesse dizer algo aos que têm muito pouco e sobrevivem com mais dificuldade a estes tempos, diria que estou por aqui e, na medida de minhas forças, estarei abraçando campanhas solidárias que ajudem a mitigar as dificuldades que vivemos.

Se eu pudesse dizer algo aos que se alegram, saibam que também comungo de sua alegria, de sua alegria que vem de ‘lives’, que vem de reprises na tevê, que vem de canções, que vem de ginásticas caseiras, que vem dos pequenos gracejos, que vem das nossas crianças, que vem de corações que também estão tristes.