Uma janela quase aberta

Um janela quase aberta

Se o tudo for realmente largo, não deve ter conseguido prestar atenção para os dois gatos parados no meio da esquina, não havia nada capaz de fazer com que observassem mais atentamente o pousar de um pássaro na sua janela. Era uma linda ave e era vista que fazia muitos voos. Mas o coitado não enxergava o seu tamanho e nem o seu valor. Não tem mais jeito, pensou, tudo agora é fonte do mesmo ferro que entorta e não permanece ereto. Foi na mesma linha que juntei os dois extremos. Juntei o que senti e o que escondi. Estão todos presos do lado oposto. Convivem com o mesmo cheiro que transborda o desejo.

Mas vi tudo isso da janela. Que sentido maior eu preciso acreditar para credibilizar o que se passa em janelas alheias. Já presenciei cada ato desgarrado, presos em desculpas e arrependimentos, porém sim, já vi corpos pelados. Janelas fechadas são roupas bem mais pensadas. E meus olhos continuam fixos, continuam aberto também em portas, jardins e espaços apertados. Sim, tem que ser pequenos assim como foi da última vez que atravessei os limites da janela do meu coração.

Fui andando com tamanha pressa, com tamanha vontade e tamanho desejo. Era algo que eu nunca havia possuído antes. Era novo, o cheiro era de desconhecimento e com um impulsos marcante. Me levou a todas as loucuras que um amor sem freios podem levar. Mas passei por tudo isso dentro da minha cabaça. Em que noites se tornavam dias, luas se tornavam gêmeas e brilhavam os meus dois lados ocultos. Brilhava o meu amor, brilhava a linha que ainda iluminava essa certeza de dor. As janelas só podem estar abertas e nada me leva mais para fora do que sentir que o vento nessa tarde toda me enrola e desaflora.

Mas o pingo da chuva parou e meu sangue esquentou. Fui levado aos delírios de uma solidão e de um trancafiamento obrigatório. Não são meus ouvidos que me consolam, não são seus tatos que me afloram. São os meus pés que andam sem saber por onde pisam, estão descalços e prontos para pisar no acaso. Não ando com saltos e também não fico longe do asfalto. O que trago comigo no peito é sinal que nada vai passar do tempo de estragado. Me levaram para fora do mato, com o meu corpo completamente gelado. Não comia pedra, mas era feita dela a seleção que me atira contra a serra.

Agora me pego correndo pelas ruas, gritando todos os sentidos do mundo. Dizendo que o azul é mero sinal que um dia te leva para mais longe do seu lado sul. Me perco na falta de sentido. Não me vejo como um presente, mas sim como fim de um futuro. Não preciso dormir pois o sono de um vida carrego dentro de mim. Sou eu mesmo o fruto da esperança despelada e desesperada.

Um velho pássaro me contou que na vida nada tem mais a ver com mhadeira do que o sonho de andar por aí sem falar muita besteira. Coitado, não tinha noção da sua ingenuidade. Era imaturo o desejo de possuir todas as respostas do universo. Era imaturo não possuir todos os condimentos destes versos. O pequeno pássaro estava errado por ser jovem. Consigo o ver dizendo que o seu futuro agora não é mais de sabão, madeira e viola. Só pode estar apaixonado para tentar saber como funciona os buracos da porta.

E nessa o vento bate e solta. A janela cria olhos e agora só vejo que tem rodas. Uma porta não entra sem a mola. A cada cair de parede é incerto se o portão está grudado com a porta. Mas meus olhos continuam a olhar as janelas. São pedaços de mundo e tem diversas formas. Vi que um homem estende roupas em uma corda, nada de mais se na virada da esquina tem um outro homem a pedir esmolas. Do lado esquerdo tinha um percevejo. Era pequenino e verde. Voando para a parede me fez perceber que a outra janela ainda está escorrendo leite.

Todas as casas têm os mesmos sinais. São buracos com os mesmos mortais. Paredes estão sendo fechadas e lares são o que vemos como normais. Entrei em uma que não tinha chão. Não pisei, mas atravessei. Corri sem no solo um pé colar, sorri sem entender para que que construíram este lugar. De todos os lugares que estive, só um deixou de ser o meu lar. Foi no que eu não pisei que idealizei completamente a certeza faltava para mover o que estava parado dentro de mim para outro andar.

Se um dia voltar e dele eu poder tirar mais um pedaço, irei dizer que dele não existirão mais conforto em uma noite que da janela posso ver passar o desgosto. Perto sempre esteve do esgoto, agora só me olha no olho para dizer que não fala mais com o desconforto. Estão todos sentindo como sinto, estão ganhando asas as poucas caudas que fazia o dragão voar. E a janela continua aberto para tudo isso tragar.

iaGovinda
Enviado por iaGovinda em 20/04/2020
Código do texto: T6923259
Classificação de conteúdo: seguro