A PROPÓSITO DE COMPRAR RESPIRADORES

Ensinava em uma faculdade particular, claro que não citarei o nome, mas que dá vontade, dá. Vai uma pista, era em Aracaju, na década de 90. Por algum motivo precisei de um papel ofício folha A4. Compareci à saleta da secretaria do departamento no qual estava inscrita como professora, e bem conhecida. A secretária sentada, bonita, perna passada, faceira e tão cheia de si que mais parecia a proprietária da instituição. Cumprimentei-a, ela respondeu enquanto descia a mão direita nos longos cabelos. Na certa para conferir se eles estavam pregados na cabeça. Pois não, professora. O que a senhora deseja? Me senti importante como se qualquer coisa pudesse pedir. Ah, é somente algo simples. Pois não, disse outra vez. Eu quero 1 folha de papel ofício A4. Para que, professora? Pode rir você que me lê, pensando no que me veio da alma até a boca para responder para que queria a folha de papel. Ainda bem que meus dentes conseguiram parar minha língua, até porque aquela pobre e domesticada moça era uma inocente útil. Esqueça, não vou precisar mais, obrigada. Ela passou, dessa vez, a mão esquerda ao longo dos cabelos da cor da asa da graúna. Tudo bem, quando precisar, é só vir aqui. Ohhhhhh, mesmo? Agora que me recordei dessa passagem na minha vida de professora me vem a vontade de saber por onde anda a secretária, e se ela é uma pobre de direita apoiando o novo ministro da Saúde...