A face de uma injustiça
Futebol é a arte do desencanto, mas quanto encantamento há nesse contrassenso de uma bola maluca rolando de pé em pé até ir dormir na rede que a acolhe, embala e despedaça (alguns) ou rejunta (outros) corações.
Futebol é alegria e sofrimento; futebol é mágica, amor.
Mas, futebol também é desilusão. Essas desilusões, imagino que para os diretamente envolvidos sejam maiores ainda, ferem demais os torcedores e entram para o roteiro de suas vidas, são narradas e relembradas a cada oportunidade, nos papos de botecos, nas reuniões familiares, nas conversas com os filhos que não viviam à época, enfim, sempre que surge uma brecha pra falar de futebol e futebol é quase sempre, invariavelmente, o assunto. Assunto que todos gostam, conhecem – pouco, muito ou mais ou menos, mas conhecem – e opinam, destrincham, divergem ou simplesmente fingem que não lhes interessa e caem na idiotia da triplicidade de coisas que “não devem ser discutidas”.
Bom, futebol é isso no conceito, mas tem a prática e práticas são exemplos; exemplos doloridos, por vezes, quando advêm as derrotas, ou amenizados, quando a vitória sorri. Vejamos alguns. Ademir da Guia em 1970, só Pelé jogava mais que ele, porém, havia o excesso de craques e Zagalo resolveu que não precisaria do Ademir. Um pecado que o tri suavizou.
Antes de Ademir, houve as injustiças com Coutinho (melhor que Vavá) e Pepe, muito mais jogador que Zagalo, mas ainda uma vez as vitórias abrandaram as injustiças.
Voltando a 1970 – e depois 1974 – tivemos o absurdo que foi o não ou o aproveitamento em conta-gotas de Edu, um dos maiores jogadores que esse pais produziu e o mundo não viu; o velho, e matreiro, Lobo não deixou.
Aí, veio 1978, quando ninguém menos que Falcão foi “esquecido”. Constantemente visito a Argentina, a trabalho, e até hoje tenho como amigos fanáticos torcedores portenhos que sarcasticamente agradecem.
Houve uma trégua nas copas subsequentes e, se ocorreu um outro “esquecimento”, não foi nada tão marcante, claro que eu, como santista, lamento que jogadores do porte de Nilton Batata, Juari, Pita e Ailton Lira nunca tenham tido chances reais, mas tudo bem.
E Neto – Neto 1990, embora "craque" de uma temporada só e atualmente atuando como humorista de rádio & TV – como jogava! Esse é um caso à parte, o que fizeram com ele foi uma sacanagem expressa, uma daquelas que até hoje não tem explicação. O treineiro da época levou uma série de jogadores medíocres para a Copa da Itália e não levou o Neto, só podia ter dado no que deu. Volta pra casa com o rabo entre as pernas e o título de pior seleção já montada no Brasil pra jogar uma Copa do Mundo (claro que depois teve o horror de 2014, mas aí fica pra outro texto).
Depois de 1990, quando a não convocação do Neto destacou de forma mais veemente a face de uma injustiça, ainda teve, ou melhor, não teve o Alex do Cruzeiro na Copa 2002, só que aí veio o Penta, então foi mais um que teve que recolher a sua dor.
Nota: rever conceitos é sempre saudável. A seleção de 1990 foi horrível, mas o Lazaroni sempre sustentou que o Neto somente brilhou na segundo semestre, depois da Copa portanto, e isso é real. Ele, Lazaroni, também deu azar com as contusões de Bebeto e Romário. Verdade também!