PURO DESABAFO!?
 
Seu Zé Velho, um cidadão viúvo que mora no campo há já algum tempo na casa de um dos filhos, é um nonagenário que goza de boa saúde. Diz, com um ar de pessoa vaidosa, que ainda tem disposição para a realização de alguns trabalhos leves, em pelo menos, uma vez por semana, lá no seu sítio.

Diz, também, que está muito assustado com tudo o que os veiculos de comunicação de massa têm mostrado para o povo em geral a respeito da letalidade da Covid-19 e que vive um verdadeiro dilema com a chegada dessa pandemia.

Ele conta que quando era jovem participou de muitas farras e brincadeiras festivas e, com um comportamento de cidadão gabola (com todo respeito aos seus cabelos brancos), ele jura de pés juntos e mãos postas, que foram tantos que nem se lembra mais de quantos... e sorri, disfarçadamente.

Em seguida, demonstrando uma tristeza quase sepulcral, ele se queixa para Deus e para o resto do mundo, sobre o que poderá estar sofrendo as pessoas de idade semelhante a sua, dizendo:

- Agora, com essa doença nova que não poupa as pessoas com a idade muito avançada, assim como eu, e nem aquelas que são fumantes, asmáticas, diabéticas, hipertensas, entre outras, tenho a consciência de que o correto é ficar resguardado em casa. Sair de casa, nem pensar!

Mais adiante, ele reflete um pouco, para de se queixar e, finalmente, desabafa:

- A coisa é mais séria do que a gente possa imaginar. E do jeito que está indo, tudo indica que vai levar um bom tempo para melhorar; e o pior de tudo isso é que nem abraçados, um homem e uma mulher que pouco se conhecem, podem ficar, mesmo que seja por um curto espaço de tempo. É osso! - concluiu.