ESPIRITISMO. DENSIDADE DO TEMA.

Viajamos no momento por andamentos diversos, nunca sentidos com a largueza atual. A sociedade humana respira outras verdades, embora relativas ganhando corpo e densidade nunca vistas. Em cem anos tudo mudou de forma significativa, e também um ar de crença mais favorecido. Sofre-se mais, porém acredita-se mais ainda em algo diverso, que não seja uma rotina exaustiva que não prospera em atingir um crescimento maior, que traga mais calma da corrida para um nada que não chega a lugar nenhum de comunhão em fraternidade, que concilia antes de dividir, provê antes de subtrair, aproxime antes de afastar.

Essa nova sensação que move crenças legítimas, professando luz e serenidade, se fortalece na subida para algo bem melhor. O mundo estertora entre calamidades físicas e maldades extremas, há algo a espreitar uma mudança. Ela está acontecendo, só não se sabe a quantidade dessa força, seu surgimento e revelação definitiva. Nada acontece tão abruptamente sem razão. O mundo espiritual está em franco movimento, convocando alguns como intérpretes de sua presença. Difícil divisar sem paixões e sectarismos sem razoabilidade esses perfis, mas sente-se. Os oráculos do poder necessitam adeptos, mas o fenômeno do sentimento dispensa as procissões pessoais. Quem negar o mundo espiritual milita na insciência.

ESPIRITISMO.

Espírita é quem acredita no espírito. E o que é o espírito? A faculdade de ordenarmos nossas vidas sem grilhões, por escolha do preceptor espiritual, o pensamento.

Esta é a razão do conforto quando se desprende o espírito do corpo material em sua jornada terrena e alça voos que só a ele é dado fazer. E só ele saberá o que encontrará.

Creio, fortemente, e assim reporta a caminhada humana, lacrada do desconhecimento sob esse prisma, que essa viagem é vedada ao alcance de nossas possibilidades explicativas no invólucro corporal, o que não inibe sua aceitação pelo milagre da crença.

Somente a fé, como em um chamã, pode ultrapassar essa porta de segredo inviolável, e pela fé dos assim acreditados.

Esse “ganhar outros espaços” se compreende por só ao elemento vivo da natureza, o homem, ser permitido pensar, ter inteligência que distingue, apartado do instinto.

Somos anões no tratamento desse tema. Todos somos, todos são, quando se trata de transcender, independente de fortes campos factuais que sinalizam indiscutíveis ocorrências dos giros espirituais de reencarnação descritos. A literatura indica. Tenho apontamentos em crônicas nesse sentido,referindo os fatos. Escapa aos sentidos, mesmo os das cinco vias pelas quais chegamos em nosso ponto de partida como ensinado por São Tomás.

Se fosse fácil a compreensão desses estamentos ninguém se debruçava sobre isso febrilmente, por toda a existência humana, motivando guerras e rupturas, pode-se dizer, eixo central do mundo, nem a história se debateria entre contradições e desencontros. É primária a colocação e desenvolvimento de enfrentamento e contraditórios nessa área. A liberdade de caminhar é de todos, e o respeito se impõe. Não se pode impor a outro o que queremos como verdade onde ela é absolutamente relativa. E a verdade já resta relativa em gênero, muitíssimo mais nessa espécie de puro subjetivismo, religiões.

Platão foi o mais espiritualista dos clássicos filósofos gregos, um espírita dos dias atuais, de forma diversa discutindo a "ideia" de pensar Deus e a alma, quase como em Kant em sua formidável filosofia que mudou o mundo moderno do pensamento.

Em Fedro discutia o problema de justificar o sofrimento dos bons e a prosperidade dos injustos. Tudo focado na alma e na possibilidade de reencarnar, "uma vida futura é vista como ápice da justiça divina inexorável", dizia.

Os mitos platônicos e a destinação das almas se situavam em que o justo merece depois da morte um prêmio e o injusto um castigo. Sinalizava explicações escatológicas a respeito das almas e abre um espaço de tempo para a reencarnação ou retorno à contemplação.

A alma não retorna ao ponto de partida senão depois de decorridos dez mil anos, nem recupera antes desse prazo essa possibilidade, dizia, e afirmava a exceção, para quem se dedicou à filosofia e se entregou a ensinar aos jovens verdadeiramente. Um personalismo evidente, um tanto pretensioso e egoísta por destacar privilégio onde ele não pode existir.

Segundo sua posição, havia julgamento para a alma e prisões correcionais para a alma pelo que fizeram na terra, no sentido de cumprirem os faltosos a pena cominada, enquanto outras almas pela sentença, são conduzidas para determinado céu, onde levam uma vida digna do que a anteriormente vivida sob forma humana. O corpo era um castigo, um sepulcro. As penas se cumpriam embaixo.

Extensa literatura e complexa avulta desses tempos, dessa fase, ANTES DO CRISTO, que não foi um mero filósofo. E o ponto é esse, Cristo não traçou essas linhas, não prometeu penas nem distribuir justiça cuja pena ultrapasse quem a cometeu. Sim, ultrapassa em um filho reencarnado doente, com insuficiências, só para exemplificar.

Simples assim e difícil de situar e conceituar tantas questões, nos basta o que considero como basilar, A LEI MORAL. A ela nos devemos ater,à Lei de Jesus de Nazaré, e viver a vida por seu Pai concedida, e ser expectante do "COMO?" de outra ou outras vidas.

Um discípulo de grande mestre estava à beira da morte.

O mestre foi ao seu encontro sabedor do que ocorria, lá chegando disse: Posso guiar-te? Perguntou.

Eu vim sozinho e vou sozinho. Em que podes me ajudar?

É apenas ilusão pensar que veio sozinho e irás sozinho. Posso te mostrar o caminho onde não há ida nem volta. O caminho foi revelado tão claramente que o discípulo sorriu e partiu em paz.

As folhas e as flores caídas jamais retornam aos seus antigos galhos.

ESPIRITISMO E SUAS DIFICULDADES.

A punição pela reencarnação é de problemática compreensão. Não que se queira fugir de uma realidade espiritual que se vive intensamente e toma conta de nosso ser. A emoção é um sentimento que ratifica o mundo espiritual presente e latente.

Com base em Jesus de Nazaré que nada apontou em penas, e calcado ainda no “amai ao próximo como a si mesmo”, baseado em que Cristo e quem ama não pune, e que não se pune quem o mal não comete, mesmo nas leis humanas, pois a pena não passa de quem comete o ato injusto, como punir um pai de um filho insuficiente, que assiste por toda uma vida, sofrendo, sua projeção, o filho, com lesão cerebral? A alma voltou reencarnada para assistir o filho sofrer? O pai expia, essa é a punição? Sofre, expia, está punido pelo que fez em geração passada? É uma conjugação de duas almas punidas, a do pai e do filho, já que o filho também sofre, e muito, como vejo, todos vemos? Esse girar em ida e volta diz respeito à alma de quem volta sentenciado? Se é assim o filho volta junto em fina triagem da culpa? Difícil esse plano difuso e de alta organicidade. Como se diz e me informam os livros, com legiões em variados espaços em seleção e andamento, como grandes exércitos em divisões múltiplas e variadas. Nada que forças superiores não pudessem movimentar e reger. Distantes, contudo de meu entendimento.

Como o Cristo, viga central dos credos, do espiritismo, principalmente pela caridade pregada e praticada, faria alguém sofrer com a doença de um filho, os dois a sofrer? Uma punição binária? Excêntrico demais e sofisticado que esbarra em lógica, na hipótese, que é aquilo que não é, que seria, se fosse.

Não haveria caridade nessa proposição. A solidariedade gigantesca que o espiritismo empresta e doa a quem precisa, caridosamente, não tem linearidade nesse seguimento de pensar. Fé e ficção são irmãs univitelinas.

Tenho como escola um sincero “sei que nada sei”, porque na realidade somos fragilíssimos e do que é importante e crucial em nossas vidas nada mais temos do que cruciar.

E caminho para “tentar”, sempre, melhorar, ser menos absolutamente imperfeito, como sou, tendo disso consciência.

HEGEMONIA RELIGIOSA. O BEM É DE TODOS.

Tenho como escola “o sei que nada sei”,divisa para “tentar”, sempre, melhorar.

Coisa difícil, melhorar, nos recolhermos às nossas insignificâncias.

Não julgarmos, não temos esse direito, só os têm os julgadores institucionais.

Nenhum credo tem o direito hegemônico sobre o bem.

Quem professa o bem do semelhante, quem não explora a crença do incauto, quem realmente faz e busca a caridade, deve ter assento na mesa que se dirige à bondade independente de crença ou credo.

Cristo e qualquer movimento Cristianizador ou não devem obter o respeito de todos, sem ofensas e censuras.

Cristo ressuscitou e reencarnou para se mostrar aos apóstolos e ratificar a caridade como primeira meta, já que filha do amor.

Que grande diferença faz hostilizar quem prega a caridade acima de tudo, em nome da prevalência tola desse ou daquele ensinamento hegemônico?

Qual o proveito quando os Papas buscam o ecumenismo?

É preciso respeitar quem merece respeito, e todos os credos que professam o bem, bem como os movimentos de âmbito mais filosófico do que religioso, que precisam obter esse respeito.

Ética e moral são fios condutores de filosofia e religiosidade.

ISSO É O QUE IMPORTA!

ESPIRITISMO. O INSUFICIENTE E A MORTE.

Estive conversando com um espírita acreditado e limpo como pessoa dirigida a um fim determinado, firme na vontade de honestamente divisar outros planos.

Coloquei sempre minhas restrições respeitáveis ao Kardecismo, não que não creia em seus fundamentos, ao contrário, apenas questionador da incrível camada ou camadas de estamentos em que seria dividida a, chamemos assim, " corporação dos espíritos”.

Credito à limitação de minha inteligência os graves entraves que tenho para aceitar essa formação superior depois da morte como uma sociedade que mais se assemelha a um exército dividido em partes e, como disse, estamentos.

Creio, sem poder explicar, nessas paragens absolutas de paz e tranquilidade que podemos sentir pelo silêncio interior.

E a descrença respeitável, na formação como uma corporação, é ou seria, a mesma que não pode explicar o surgimento da vida e a formação do pensamento, ou seja, a própria espiritualidade.

Reside assim e aqui minha máxima reverência ao Espiritismo.

Mas, acentuo e repito, minha incapacitação de compreensão é que recusa a total adesão, não, fique claro, ao mundo espiritual e à ressurreição em corpo, mas ao que se desenha como esmiuçada e específica divisão das hostes dos que se foram e estão como espírito nessa sociedade “ post-mortem”. E só.

Me disse a referida pessoa que a deficiência dos que assim vieram ao mundo não segue o espírito, morto o corpo o espírito passa a ser um conhecedor do discernimento e do que se passa na terra dos vivos com todas as possibilidades de apreensão do que ocorreu e ocorre depois de morto.

Todos temos uma única certeza na vida, vamos morrer um dia, só esse sinal nos marca desde o nascimento e é inútil considerar qualquer medo sobre tanto.

Da mesma forma que se perde a consciência no sono e se deseja o mesmo para descansar, a morte é a liberdade para muitos e uma grande lição; você não pode morrer.

A onda vai à praia e volta ao mar, mas não se perde. Ela é una com o oceano como somos com o cosmos e à mutação espiritual e mesmo material. O corpo é mero invólucro.

Quando seu corpo está cansado você se despe e vai ao campo da eternidade, como quando dorme para descansar.

Quando você está excessivamente desgastado, como acontece com deficientes - exaustos pelo sofrimento para continuar carregando o pesado fardo da existência limitada, os que sofrem as agruras da carne, já que a dor moral dos insuficientes não se acerca, por falta de discernimento - morte é libertação, parte-se para um despertar de paz e calma.

Deus que pode parecer extremamente cruel, labora o contrário, trouxe a limitação ao deficiente para essa brevíssima passagem terrena, sem discernimento para o arbítrio, para operar o mal, e assim, nesse sentido, estar liberto da insuficiência em infinito espaço maior, a eternidade.

O espírita tem razão.

Celso Panza
Enviado por Celso Panza em 17/04/2020
Código do texto: T6920323
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