Blackhole Head
Chego do trabalho e ela ainda está de pijamas. Passo e lhe desejo boa noite, respondido por um olhar sem esforço, diluído no opaco da sua pupila, acinzentado como cimento fresco, com devir de endurecer-se. Quando cruzo com aqueles olhos hesito, tibuteio, não tenho coragem para dar a ela uma lixa ou algo assim, para tirar dela o concreto, o qual espero que esconda um brilho por trás.
Sei que sua cabeça não anda das melhores, suga e suga. Chupa a luz de seus talentos suprimidos, absorve a energia de seus movimentos e tanto peso torna a mente âncora. Assim, presa estagna-se num ponto enquanto o casco do seu ser é ferido aos poucos e dos buracos entra mais água do que se pode chorar. Ainda mais pesada ela afunda.
Me sinto culpado, fraco. Por que não posso ajudar a menina que amo, aqui na minha frente? Por que tudo o que faço ou ofereço não surte efeito algum? Desse navio nem sou capitão. Como poderia um homem tapar um buraco negro?