A consciência tranquila de um pastor evangélico

Deitado numa cadeira de balanço que tenho na varanda, deixei-me levar por meus pensamentos. Comecei a lembrar do dia em que me converti a Jesus na igreja em que congrego até hoje. Faz vinte e dois anos desde aquela data.

Para mim, aquele foi um dia muito especial. Foi o dia em que tomei uma decisão radical na vida. A partir de então, passei a estreitar meu relacionamento com Deus. Dia após dia, declarava meu amor incondicional ao Senhor Jesus.

Muitas coisa maravilhosas aconteceram. Fui me envolvendo em tudo o que se fazia na igreja. Naturalmente, me destacava pelo envolvimento ou por outras razões, não posso precisar por quê. Certo é que seguia progredindo na igreja.

Ser levado ao ministério era um desejo que tinha. O tempo veio e, lá estou eu, fui consagrado a presbítero. Que alegria imensa, não podia me conter. Pouco tempo depois, uma alegria maior ainda me sobreviria, tornei-me pastor. Uma grande realização me acontecera e, em tudo isso eu reafirmava todo o meu amor por Jesus. Dizia, sempre, a todos que de mim se aproximasse, que Jesus era a coisa mais importante da minha vida.

Não muito tempo depois, o pastor presidente destacou-me para dirigir uma congregação. Era a primeira igreja que eu ia dirigir. A sensação era indizível. Comecei a ver diversas famílias em situações financeiras bastante difíceis. Aquilo me incomodava muito, fazíamos o que era possível para resolver, mas sempre sobrava alguém sem ajuda.

As contribuições dos fiéis tinham de ser enviadas para a igreja sede, quase que integralmente. Para ajudar os mais necessitados, tínhamos de pedir doações para os membros. Pensava comigo, por que a maior parte desse dinheiro não fica aqui para suprir as necessidades locais?

Certo dia o pastor disse que queria conversar comigo sobre assuntos relacionados à situação da congregação. Fiquei um pouco ansioso. “O pastor vai querer saber como está a situação dos irmãos mais carentes e vai dar-nos um bom suporte", pensei. Na hora marcada, entrei em sua sala para a nossa conversa. Nos cumprimentamos e depois de um breve prólogo, disse:

“Meu filho, o que está acontecendo lá, que os dízimos não têm aumentado?”. Respondi-lhe alguma coisa e prosseguimos. Saí dali pensativo. Não falava a ninguém, mas não podia negar para mim mesmo que estava, não apenas, vendo que o povo era vítima de uma exploração impiedosa, como também, era conivente com aquilo.

Passou a ficar muito fixo em minha mente, o fato de os grandes pastores estarem, cada vez mais, se enriquecendo, ao passo que quem era paupérrimo permanecia na mesma condição, além de não haver a assistência devida aos que precisavam.

Pensava em começar a denunciar sistematicamente aos fiéis, o quanto estavam sendo explorados e dizer-lhes que aquela não era a proposta de Jesus para os seus seguidores. Porém, pensava na longa trajetória que tivera até ali, o quanto fora difícil chegar àquele posto. Eu estava vivendo o que tantos outros almejavam viver, não podia correr o risco.

Naquele tempo, não posso negar, ficou muito claro para mim, que Jesus não ocupava o primeiro lugar em meu coração. Senti remorsos que me tiravam o sono. Havia muitas outras coisas que eu amava intensamente e não tinha coragem de abrir mão. Não podia cogitar a ideia de perder o ministério por causa de algo tão comum nas igrejas. Exploração?! Não, isso faz parte da dinâmica da obra de Deus na terra. Não vejo mais problema algum em receber o dinheiro de quem quer que seja, mesmo dos que mais necessitam. Hoje, continuo pastor e convivo muito tranquilamente com todas essas questões. Para lidar com tudo isso e conseguir dormir em paz, é só ter calma e capacidade para domesticar a consciência.