Atração
Recordo de Madalena, jovem morena-clara, cabelos pretos, longos. Morou em frente à minha casa.
Já há algum tempo. A via de vez em quando à janela. Olhava para ela, ela me olhava. Apenas isso. Mas era algo agradável, eu gostava. Tinha um rosto suave. Olhar a me atrair.
Uma noite, não sei bem como (refiro-me à coragem de fazer esse ato), atravessei a rua, indo à casa dela. Começo da noite. Tinha ela cabelos compridos, negros, morena. Me atraiu seu sorriso. Era calma – e também isso chamava-me a atenção.
Madalena estava à janela, sozinha. Mesmo morando próximo, em frente, nunca havia com ela conversado.
Passava. E a via à porta – ou à janela. Mas sua timidez me era um atributo. Não fora motivo de depreciação. Gostava daquele jeito. Se fosse diferente perderia o encanto. Ao menos para mim, perderia.
Olhava para ela. Ela me olhava, coisa espontânea. Não tem como a gente não perceber quem reside à nossa frente. Foi assim com Madalena.
Conversamos, naquela noite. Deveria eu estar com uns 13 anos. Creio.
Ela, por aí.
Não houve nada além do diálogo.
Voltei para casa.
Dias depois, menos de uma semana, Madalena mudou-se. Foi embora – e sumiu. Não mais a vi. Nem nos despedimos. Ela nem contou-me que iria embora.
A vida tem esses, digamos, mistérios. Certamente que coisa desse tipo aconteceu e acontece com muitos. Certamente com todos nós já ocorreu. Sim, claro, certamente.