UMA BUSCA DESENFREADA POR ALGO QUE TALVEZ NÃO EXISTIA

   Minha busca começou nos anos setenta em plena época do "vale tudo", eu queria "aparecer", ser notado por alguma coisa sensacional. Os amigos e amigas eram muitos, tanto na rua onde morava e nas imediações ou no colégio onde estudava. Eu gostava mais das amizades femininas, eram mais interessantes e delas tirava alguns proveitos como flertar ou fazer de conta que namorava com alguma para ver a intenção das outras. Às vezes rolava até um ciuminho, o que me envaidecia, não vou negar.

   Lá em cima eu me referi ao "vale tudo", mas isso era o seguinte: valia ir ao baile e levar uma amiga que não fosse do nosso grupinho, a amiga do grupo podia também levar um rapaz seu conhecido, nessa "transação" eu via o que era possível "pescar" para tirar algum proveito, mas depois passava em branco, o que eu "procurava" talvez não fosse possível. No colégio o "babado" era semelhante, outras amizades, rapazes e moças da mesma faixa etária, a gente se "enturmava", criava "facções", ou seja, alguns "sub-grupos" dentro do grupo, o que acabava dando algum tipo de problema, porém de solução rápida, no fim acabava tudo às mil maravilhas (imagine de fosse hoje!).

   Acontecia de eu sair sozinho, ir a um cinema (na época era o máximo, bons filmes) ou mesmo fazer uma pequena viagem. Eu queria conhecer algo diferente, imaginava coisas, usava a ficção para "viver" emoções, me fazia de ser uma pessoa importante, respeitada, mas no fundo eu era o "eu" já conhecido, coisas desse gênero. Quando saía de um cinema depois de assistir a um filme do Tarzan por exemplo, eu era o próprio, imitava aquela "marra" dele, me achava o "forte". E nos filmes de faroeste eu incorporava no mocinho e "metia bala" nos "bandidos" que encontrava pela rua quando retornava para casa. E quando o artista principal beijava a mocinha eu já me via na pele dele, sentia até o "sabor" daquele beijo na boca, de preferência bem demorado.

   Eu estava procurando alguma coisa mas não encontrava, me desanimava mas não desistia, achava que um dia poderia encontrar, mas o que era essa "coisa" tão desejada? Nem eu sabia dizer, mas procurava de todo jeito. O tempo foi passando, fui me acostumando com as mudanças, com as novas amizades que iam surgindo, os namoros já eram mais "responsáveis", isto é, a gente encarava como um possível futuro casamento. Veio o tempo de começar a trabalhar, dinheiro no bolso, uma farrinha aqui, outra acolá, mas tudo dentro do limite.

   Hoje eu vejo esse tempo como uma lição, uma vida que hoje é humanamente impossível voltar a viver, o que me deixa um pouco triste. E o que eu procurava nunca encontrei e essa "coisa" ainda teima em permanecer em minha mente sem se identificar.

  

Moacir Rodrigues
Enviado por Moacir Rodrigues em 15/04/2020
Código do texto: T6917592
Classificação de conteúdo: seguro