ESCREVER PRIMOROSAMENTE.

Fala-se muito em escrever com primor, primorosamente. A escrita “primorosa” pertence aos sábios, e eles são poucos, vieram ao mundo para ensinar, as outras “escritas” são apêndices desse manancial de escrever primorosamente. Os “primorosos” nada disso pretenderam, escrever com primor, buscavam trazer luzes para essa escuridão em que vive a humanidade. Quem ensina não tem limitações para ensinar, nem pode escrever balizado, não é esse o escopo de escrever. Isso é diletantismo e distração pessoal, válido para entretenimento; e só. Mas primeiramente é necessário conhecer a língua, minimamente, sem solecismos ou vícios de linguagem manifestados, para que haja plenitude da comunicação em seu veículo por excelência.

O segundo maior monumento da literatura universal promana de Alighieri em sua “Commedia”, acrescido um vocábuloqualificador ao Inferno de Dante, “Divina Commédia”.A referência da lingua italiana na sua tardia unificação, por isso chamado de lingua “dantesca”, se deve ao melhor dialeto falado nos anos mil e oitocentos na fragmentada itália. Está lá o primor das emoções humanas, passeando em castigo pelas “bolgias” do inferno.

Gandhi, Confúcio, Rousseau, Sidarta Gautama, o Buda, Franklin, Proust e pouquíssimos outros escreveram com primor, não buscaram reconhecimentos vãos nem nada disputavam, eram ícones de como deve se portar o ser humano, se ao mundo veio para ensinar escrevendo, nunca disputar, razão primeira dos ensinamentos que têm como meta evitar torneios.

Longe de disputas e buscando o melhor, escreveram com primor esses privilegiados neurônios, não lhes feria a vaidade ignara. Por isso escrever com primor é difícil. Fiz uma crônica nesse sentido e um amigo que escreve no Recanto disse que escrever era fácil, mas se formos ao seu perfil está lá: “Escrever é dificíl”.....Paradoxal, não(!) , é a exposição da verdade que ele mesmo sente e confessa e ninguém pode esconder. A verdade é sobranceira...não escapa da avaliação pessoal quando não busca contradizer sem motivação.

Nesse propósito se escreve, nunca “primorosamente”, mas historietas nossas corriqueiras ou ficções. Profissionalmente se busca o melhor, atividades laborais, acadêmicas ou não, sendo o veículo a escrita. Vive-se desse veículo. Busca-se a comunicação profissional com apuro, fato diverso de escrever “com primor”.

Shakespeare em sua dramaturgia não é aceito por extensa literatura investigativa como feitor de sua obra; é grande o debate nesse sentido. Não tinha intelecto para tanto, meramente envolvia-se com o teatro, era uma pessoa simples e sem estudo formal. Diga-se que não era o teatro frequentado por Bacon, único intelectual em condições à época de escrever “primorosamente” sobre o perfil humano como teria escrito Shakespeare. Bacon, máximo filósofo, era profundo conhecedor da alma humana. Francis Bacon teria escrito a obra de Shakespeare, inclina-se relevante e exaustiva pesquisa dos doutos praticamente em unanimidade para essa afirmação. Na época elizabetana, era sem dúvida Bacon , POR SEU PRIMOR EM ESCREVER, atente-se bem, quem estava capacitado a tanto, não uma pessoa simples como Shakespeare, dando nascimento a conhecida “Shakespeare-Bacon Controversy.”

Não é qualquer um que escreve com primor, histórias sem ensinamentos nada tem de relevante, são comuns, nada trazem de ensinamentos que marcaram a humanidade, ainda que literariamente. Essas historietas, servem a amenidades, nada mais.Se muito, histórias curtas e sem primor, relevantes, encontramos nos contos Zen.

Escrever com primor é privilégio daqueles que a história da escrita conta com parcimônia, para quem com primor se debruça na leitura e sua história, raízes maiores e profundas e conhece os poucos “primorosos escritores”.

Celso Panza
Enviado por Celso Panza em 14/04/2020
Reeditado em 14/04/2020
Código do texto: T6916741
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