Programa Poesia, Amor e Vida - Parte II

Revirando os meus arquivos recentemente, descobri que ainda estão comigo muitas cartas (A maioria delas minha mulher rasgou e queimou, por puro ciúme, bobagem...) cartas que eu recebi há mais de trinta anos, quando fazia o programa Poesia, Amor e Vida, na rádio Primeiro de Julho em Água Branca, no Piauí. Que tempo... É uma vida e muitas histórias pra contar que a gente quase nem acredita...

São cartas de pessoas apaixonadas, carentes, cansadas da labuta do dia, desiludidas e muito mais se pode ler nas entrelinhas, eu levava tudo na mais pura aventura de quem não tinha muito compromisso com vida séria.

Uma noite era um telefonema, outra uma cartinha de uma fã com voz aveludada e letras lindas que poderiam refletir até sua beleza e o pior é que insistia em me ver, queria de um jeito ou de outro que eu fosse vê-la. Morava em São Pedro do Piauí. Então, um dia eu combinei com o saudoso Raimundo Marcelo, (Partiu cedo demais, antes do combinado!) meu amigo e técnico de som da rádio, que iríamos lá e veríamos a tal moça, com uma condição, se fosse bonita eu ficava com ela e se fosse feia era dele... O Marcelo dava risadas. Fomos lá pelo endereço que ela nos forneceu. Chegamos, batemos palmas e a expectativa era grande, como seria aquela moça dona daquela voz linda e da letra bonita nas cartas?... Quando a moça apareceu... Meu pai, o que era aquilo? Que mulher feia!!! Eu olhei pro Marcelo e ele olhou pra mim, virou o rosto... Olhou pro céu... Quis sorrir, mas eu dei um toque e ele se conteve. Entramos na casa, conversamos, ela nos serviu um doce... Horrível! Mas tudo bem. Era uma jovem de uns dezesseis pra dezessete anos e estava com síndrome de adolescente desiludida da vida e de tudo.

Ocorre que ela havia escrito para mim, na rádio, e disse que queria um amigo e esse amigo tinha que ser eu. Estava com depressão e queria se matar, só pensava nisso. A mãe a havia abandonado e se sentia muito mal.

Fiz a minha parte, fui visitá-la, conversamos, dei-lhe alguns conselhos e então nos despedimos. O nome dela esta aqui, mas não importa muito, nem sei qual foi o futuro daquela jovem e hoje já são trinta anos depois de tudo aquilo e não sei nada mais sobre ela!

No caminho de volta o Marcelo soltou a gargalhada, sorriu até e disse meu Deus me perdoe, mas feia daquele jeito só tem que se matar mesmo... Vai ser feia assim no inferno! Eu disse, Marcelo, combinado é combinado, ela é tua... Que tempo, meu pai! Até hoje guardo aquela carta datada do dia seis de Dezembro de mil novecentos e oitenta e nove. Dou muitas risadas só em recordar aquelas cenas...