Programa: Poesia, Amor e Vida - Parte I
A Rádio Primeiro de Julho fica em Água Branca, município a uns cento e dez quilômetros da capital, Teresina, no Piauí. Em mil novecentos e oitenta e nove eu fazia um programa nessa rádio, que é de propriedade do meu amigo Dr. José Calado Neto, médico psiquiatra e na época era o prefeito da cidade. Eu saía de Agricolândia, a uns vinte e poucos quilômetros, para fazer o programa no sábado à noite e no domingo, também à noite. Por muitas vezes fui com o meu amigo Manoel Jaime, outras vezes ia de carona... Levava sempre o meu grande amigo Luiz Martins de Moraes, o famoso Luiz Dicosa, era meu fã numero um!
Eu recebia muitas cartas, apaixonadas, de ouvintes distantes e muito carinhosos com o locutor. O Raimundo Marcelo (In Memoriam) era o técnico da mesa de som. Era um programa diversificado, tinha música sertaneja e só sertaneja, poesias e entrevistas. Era um programa cultural e romântico. Eu lia as cartas dos ouvintes no ar e isso fazia com que o programa fosse o campeão de audiência, causando inveja a outros que já estavam lá há mais tempo e que eram programas diários. Tinha um tal de Chico Show, programa de forró, no final da tarde, muito bom até... Um dia recebi uma carta de uma ouvinte que dizia Camilo Neto, gosto muito do seu programa, “apesar” de que sua voz é muito linda... Outra trazia uma poesia bem rimada “Vai, vai, cartinha, vai na rádia primeiro de julho, vai dizer ao Camilo Neto que não se esqueça de mim!” Maravilha!!
A carta que mais me chamava à atenção era a de um ouvinte que se chamava Damião Justo de Souza. Ele pedia sempre a mesma música, de Barrerito, “morto por dentro”, no final da carta oferecia para o Francisco, nos transmissores, o vela branca, o Zé, Dr.Calado neto e para mim, Camilo Neto, por ser um ótimo locutor. Eu lia a carta, não sabia de quem se tratava, mas estranhava o fato de o tal oferecer só para homens, então soltava a música, desligava o microfone e eu comentava com o Marcelo, esse cara e gay! Só oferece para os machos... Então eu e Marcelo sorriamos muito. Sempre, todo programa estava lá a carta e os mesmos dizeres e, claro, acontecia a mesma coisa! Uma bela noite do programa eu estava no ar já lendo a carta, quando de repente entrou um senhor no studio, com um baita de um cassetete na mão e sentou-se numa cadeira que estava bem ao meu lado, eu fiquei na minha e continuei lendo... quando terminei... ai vai então seu Damião Justo de Souza a sua música favorita... Já ia dizendo a mesma coisa, Marcelo esse... Quando o Marcelo me interrompeu e apontou para o homem que havia entrado no studio, era o próprio! E eu mais que depressa levei a mão até ele e o cumprimentei e disse como vai senhor Damião, que prazer em conhecê-lo!!! Quase que eu entro pelo cano, gelei... Depois fiquei sabendo por ele mesmo, o Francisco era filho dele e trabalhava nos transmissores da rádio, o vela branca era o apelido de outro filho, o Zé era um sobrinho e o doutor Calado Neto era o seu médico psiquiatra (o homem era doido, e ainda trabalhava como vigia da praça pública, que o Dr. Calado Neto, que era prefeito, tinha colocado lá de guarda!!), e eu que era o seu locutor favorito... Por isso sempre o mesmo oferecimento! Ufa! Que alivio! Quase morrí....