A menina que foi buscar a bola

Sempre preferi as brincadeiras de meninos. Jogar bola, correr, fazer embaixadinhas, jogar terra, dentre outras tantas peraltices que os meninos fazem. Diferente das meninas que preferem sentar, organizar as casinhas e as bonecas, eu gostava mais era de brincar na rua, com os pés na terra, voltar pra casa com joelhos ralados e canelas russas. Como isso era bom!

Dia desses, no alto dos meus 31 anos, estava rebatendo bola com meu namorado. Em um momento ele rebateu forte e a mesma foi bem longe. Como ele havia buscado a anterior, quis buscar essa. Quando se é criança sabemos: ninguém gosta de ir buscar a bola quando essa vai pra bem longe. Mas adulta, aproveitei pra dar uma corridinha e de quebra queimar umas calorias.

Pensei mais um pouquinho e lembrei-me de quantas vezes a brincadeira estava tão legal pra mim e de repente alguém jogava a bola longe e justamente na hora de eu ir buscar, ao voltar, ninguém queria brincar mais. E aquele sentimento de frustração aparecia. Poxa, busquei a bola atoa? Penso que num desses momentos foi onde conheci esse sentimento indigesto. E nada se podia fazer, era ir pra casa e dar a brincadeira por encerrada.

Engraçado que no outro dia estávamos lá, a meninada toda novamente, brincando, correndo, se divertindo. Até o momento de algum ir buscar a bola e decidirmos que não mais queríamos brincar. Que naquele dia não fosse na minha vez, era o que meu íntimo pedia.

E quantas e quantas vezes nos sentimos assim na vida: como a garota que foi empolgada buscar a bola, se esforçou, cansou e ao chegar na brincadeira novamente ouviu dizerem que não mais iriam brincar!

De fato é uma frustração, mas o bom disso é que sempre sobrevivemos. Eu, nas tantas vezes quando criança que busquei a bola, não imaginava que estava aprendendo algo tão importante: sobreviver às frustrações!

Crescemos, as benditas crescem conosco porque elas também são insistentes e amadurecem, ficam enormes! Mas a receita é a mesma: aceitá-las, driblá-las, esperar o outro dia e ir novamente com a energia toda para a brincadeira da vida!

Voltei com a bola, felizmente meu namorado não quis parar e brincamos mais um bocado, até os dois, que já não somos mais crianças, ficarmos tão ofegantes e decidirmos juntos por parar!

Eciane
Enviado por Eciane em 14/04/2020
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