FUGI DA CHUVA

Fugi da chuva

Regina Barros Leal

Um dia em que escrevi sem olhar para trás. Escrevi sobre o hoje, o efêmero dos segundos que passam. Minha vida sobre ela mesma. O tempo sobre ele mesmo. Pensativa no hoje vejo o tempo enfadonho. Lento, arrastado.

A chuva cai forte e o vento bate sobre as cortinas levantando-as. Os pingos de chuva escapam das janelas por mais fechadas que estejam. Olho pela janela e vejo o céu carregado de densas nuvens cinzentas e sei que há pessoas estão nas camas, nos quartos, nas salas, ao telefone. Sei dos que estão molhados, aflitos, enxugando a sala, juntando os móveis, subindo nas nos telhados, desabrigados. E eu não estou na calçada!

Parece que vejo minha irmã sentada no sofá, assistindo televisão ou lendo. A chuva engrossa e volto à janela do meu quarto e vejo a vida, o tempo que se esvai. Hoje estou triste e meio cansada, depois, quem sabe, volto a escrever.

Fugi da chuva, mas molhei meu rosto de lágrimas.