Angu e Língua
PEÇO desculpas às hermanas e hermanos, mesmo sabendo que não escrever sobre o coronavírus não induz à leitura, vou deixar de lado o assunto, já tem muita gente comentando e quando falo nisso fico meio deprimido, assim vou tratar apenas de amenidades, ok?
Tenho certeza que já disse que uma irmã só me chama de Nêgo do Beição, e eu a ela de Nêga da Beiçola. Isso há mais de sessenta e tarará de anos; antes, portanto, dos tempos do politicamente correto. Assim não podemos renunciar a um hábito carinhoso tão antigo e carinhoso. Repito um hábito carinhoso.
Essa irmã não acompanha atentamente meus escritos nos jornis do interior e nem se liga na internet. Prefere ouvir rádio que ainda fazem daqueles programas que deixa o povo falar. E é fanática por papear no celular.Mas de vez em quando, quando lhe dá na telha, lê meus escritos, inclusive as maltraçadas aqui do Recanto. Detalhe: lendo é muito atenta, bota os oclinhos John Lennon e analisa tudo. Da geral que deu nos últimos dias disse séria:
- Nêgo do Beição, quando você escreve sério e mete o cacete nos graúdos é menos lido e quase ninguém faz comentários. Isso prova que as pessoas são parecidas comigo, preferem amenidades. Vai, bicho feio, escreve besteira e, quem sabe, tu vai ser campeão de audiência.
Não sei se ela tem razão, mas dee ter algum fundamento, porque eu próprio já tinha notado isso. As pessoas rejeitam a pegada forte, o foco na verdade nua e crua, preferem o meio termo. Devem ter razão.
Mas para não encher a bola da irmã disse a ela:
-Nêga da Beiçola, o problema das pessoas é que elas seguem rigorosamente o conselho da nossa saudosa avó paterna: "Angu a gente come pelas beiradas para não queimar a língua".
Ela riu e respondeu:
-Foi por isso que nós queimamos muito as nossas. Inté.