VIDA DE MÃE É ASSIM
Era uma vez uma mulher que perdeu seu nome de batismo, ou melhor, trocou-o por outro muito usado: mãe. Sendo mãe tornou-se uma pessoa essencialmente chata.
A maior cobradora da paróquia.
– Faça isso, faça aquilo...
Às cinco e meia da manhã o relógio tocou. Começou a batalha.
– Vamos acordar, pessoal!!!
Correu, ligou a água para o café.
– Vamos crianças, vistam o uniforme!
O pai já estava no banho.
– Rápido. Tem aula.
Coou o café. Serviu a mesa.
– Vamos pessoal! Olha a hora! Comam o pão! Escovem os dentes!
Pronto. O marido foi para o trabalho e as crianças para a escola.
Trocou de roupa e limpou a mesa do café.
Arrumou as camas. Varreu a casa. Retirou o pó dos móveis. Foi ao verdureiro. Duas sacolas enormes de frutas e legumes. Chegou quase arrastando o que comprara.
Feitas as compras correu ao açougue, aproveitou a saída e passou pelo banco, pagou as contas de água e luz.
Voltou correndo. Fez o almoço. Olhou o relógio. O tempo trabalhava como inimigo naquele dia. Observou que estava na hora do marido e das crianças chegarem...
Chegaram todos. Um alvoroço. Ela serviu o almoço.
– Menino, não belisque sua irmã!
O pai pediu o macacão. Contou que no trabalho tudo havia melhorado. Aumento em vista.
Breve repouso, um cochilo e voltou ao serviço.
A mãe lavou a louça do almoço. A filha secou os pratos e o filho os talheres. Imediatamente eles se mandaram para o quintal.
O cachorro apareceu com os pelos da cauda bem aparados.
– Esse menino! Foi por isso que ele havia pegado a tesoura...
– Crianças, venham fazer a lição! – berrou a mãe da porta da cozinha.
Sim. Claro, era necessário arranjar figuras para a tarefa de geografia.
Costurar a barra da calça do menino. Pregar o botão da blusa da menina.
– Mãe, amanhã é aniversário da professora. Tenho que levar um bolo.
Pronto. O bolo está no forno. Enquanto isso, retirou o lixo da área de serviço. Muito tarde, o caminhão já havia passado. De volta com o lixo para dentro de casa. Deixar lá fora era um risco desnecessário. O cachorro da vizinha era uma fera nesse quesito.
– Vamos ao dentista.
– Cuidado ao atravessar a rua.
Passaram na panificadora. Seis pãezinhos, um litro de leite, mais um saquinho de pó para suco.
Voltaram para casa.
– Tomem banho!
Providenciou o jantar.
– Não gosta de ovo? Tem que comer. Faz bem para a saúde.
– Eca!!! – grunhiu o menino.
– Fiquem quietos. Deixem o papai assistir ao noticiário sossegado. Ele está cansado. Trabalhou o dia todo.
– Vão para o banho! Já arrumaram o material para a aula de amanhã? Mas que turma! Desde que chegamos do dentista estou dizendo para irem para o banho.
Todos se deitaram.
Apreciou por uns instantes o sossego da casa. Finalmente quietude. O relógio da sala chegava pachorrento com o ponteiro pequeno ao número 11.
Deixou a mesa arrumada para o café matinal.
– Ora veja! O menino esqueceu de guardar o caderno.
Abriu-o, deu uma olhada na lição. Ele preenchera uma folha com dados pessoais: nome completo, data de nascimento, local e também dados familiares.
Profissão do pai: mecânico.
Profissão da mãe: não faz nada, só fica em casa.