OS BAILINHOS DA KALUMBY

OS BAILINHOS DA KALUMBY

...No domingo, depois que saia da igreja matriz, e de umas duas ou três voltas ao redor da praça das Nações, ficava a observar a menina de pele morena que graciosamente passeava tanto na praça, quanto nos meus pensamentos.

O grupo de meninos do qual fazia parte, também a observava e ficava a disputar, quem seria o corajoso que a ela dirigiria a palavra e a conquistaria.

Seu sorriso iluminado ofuscava nossa coragem vestida do medo que tínhamos de uma possível rejeição, pois tê-la como musa intocável era-nos muito mais agradável e prazeroso.

Da discoteca do Valuar, ( seria Valois, mas no interior do Brasil, é assim mesmo) vinha o convite para a dança que freneticamente agitava os “brotos” da época que curtiam adoidado o som de Boney M, BeeGees, Abba, Travolta, A-ha e tantos outros que tocavam os nossos corações nos momentos da música mais suave.

O globo de luzes coloridas davam o ar da graça nos movimentos dos corpos, principalmente da menina que como nós, se divertia no meio do salão com sua turma de amigas. Mas quando aquela música lenta começou, me vesti de toda coragem do mundo e chamei a linda pequena para dançar. Olhou-me nos olhos, como se quisesse dizer: que ousadia desse menino magricela! E aceitou a dança dando um olhar para as amigas e em seguida, quase colando o queixo no peito para não mirar os meus olhos que buscavam os seus.

Senti sua respiração e o pulsar do seu coração... talvez fosse do meu que estava quase para sair pela boca, enquanto a ouvia sussurrar a canção que tocava, o que me tranquilizou para perguntar o seu nome. Ouvi, pois, a melodia mais bonita naquela voz carregada de um sotaque desconhecido dizer: Emauela Saydh . Era de descendência libanesa, filha de um moço que era chamado de turco, saberia mais tarde depois de um beijo.

Beijo esse, que só foi trocado na semana seguinte quando dividi o meu X-salada com ela e a convidei para dançar novamente a mesma música que me levou a ela, ou melhor, que a trouxe para mim.

Sob a luz frouxa em outra parte do salão, conversávamos, causando a antipatia das suas amigas e a inveja dos meus colegas que se imaginavam no meu lugar.

Quantas lembranças boas tenho dos tempos em que só sonhava!

GEORGE PAULO
Enviado por GEORGE PAULO em 12/04/2020
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