Mar

Minha irmã e a minha mãe tem um certo problema com o Mar. Elas precisam estar com ele constantemente, precisam vê-lo, ouvi-lo e veem vídeos disso o tempo todo. Incomoda-me, pois sempre estão conversando sobre o Mar. Sinceramente, eu nunca tive esse apego com o Mar, nunca me senti plena e em paz por apenas sentir a brisa da maré sobre meus cabelos. Isso nunca me ocorreu.

A praia sempre foi um lugar que não guardo boas lembranças, músicas em som alto, pessoas gritando e vendendo por todos os lados. Eu apenas visto meus óculos de sol, finjo dormir ou não prestar atenção nas coisas ao redor, encaro o horizonte e tento encontrar um fim. Mas nunca o encontro. Ele é infinitamente grande e esse fato me assusta. A imensidão dele. Não me sinto bem com o mar. Isso é como um crime para um poeta ou para um artista... Vender a arte na praia seria o “script clichê” para qualquer pessoa que cultiva belas-artes. Mas, eu não me sinto bem com ele. Não escrevo coisas positivas. Não penso em coisas positivas. Ele só me traz a angústia da imensidão. E me deixa atordoada, com o vento espalhando meu cabelo de um lado para o outro, como se balançasse meu desassossego.

Eu não sinto o prazer de surfar nas ondas. Não sinto a adrenalina que os surfistas sentem quando cortam as ondas, ou fazem manobras aéreas. E eu seria julgada se dissesse que sei surfar e não o aprecio, não espero ansiosamente para isso chegar, ou imploro pra que meu irmão empreste a prancha imediatamente. Ele quase me enfia no mar dizendo “você sabe fazer, é muito boa, eu quero muito ver isso...” e então passo horas batalhando entre as ondas pra deixar meu irmão contente por eu saber fazê-lo.

Eu sou uma falsa surfista, uma falsa artista, uma falsa irmã mais velha. Apenas pelo fato de que não acho o Mar grandioso. Não acho que ele tenha algo demais para apreciar, qualquer lago ou rio tem água e pode trazer paz. Honestamente, gosto mais de lagos e rios, eles não são movidos pela lua, não estão bravos ou calmos em momentos aleatórios. O lago apenas inunda em alguns momentos e o rio fica forte quando ocorre tempestades, mas em geral, sempre estão bem no lugar deles.

O Mar. Eu posso já ter apreciado o Mar algum dia, mas, francamente, não vejo mais nada nele a não ser água salgada e movimentação constante. Às vezes idealizamos figuras na nossa mente e acreditamos que aquilo é Grande e que nos completa. Nem sempre essa figura vai te modificar ou te fazer entender uma pergunta filosófica. Ela só é o devaneio da sua mente tentando fugir do que realmente é importante. A fuga da rotina, da normalidade, da vida que cansamos de viver.

O Mar... há tanto para dele esvaziar.

Elena Estrela
Enviado por Elena Estrela em 12/04/2020
Reeditado em 14/04/2020
Código do texto: T6915117
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