Perus de Páscoa...

Perus de Páscoa...

Quinta feira. Véspera do grande dia da semana santa, a última oportunidade para

as compras dos ingredientes necessários para a ceia. Viam-se pessoas acotovelarem-se nos pontos de venda de peixes e mariscos. Para os afortunados, um tempo a mais para deleitar-se na escolha de um bom bacalhau, (se é que exista bacalhau ruim).

Em exposição, lá estavam em grande abundância, ao lado de lagostas, camarões,

e outras iguarias, menos nobres entre os ditos frutos do mar.

Motivado, pelo momento, lá estava eu, igualmente empurrando um carrinho cheio de coisas que nada condiziam com a espiritualidade recomendada para este período de semana santa. O supermercado estava todo decorado com doces e ovos coloridos em todas as gôndolas, nada lembrava em sua ornamentação o sentimento cristão,

da paixão de Cristo ou da passagem da morte para a vida como verdadeiro sentido

da data festejada.

O "espírito" de uma páscoa achocolatada, era bem mais lucrativo,

a notar pela avalanche de ovos que passavam pelo caixa nas mais variadas formas e tamanhos, justificando o sorriso no rosto das moças vestidas a caráter com narizes e orelhas

bem coloridas.

Contudo, era inegável a existência de um clima alegre presente entre

os clientes

na fila do caixa, consegue-se até flagrar alguns gestos de educação e

de solidariedade, que ia desde a flexibilidade do rigor na fila, deixando passar a frente pequenas compras, à ajuda na hora de puxar o carrinho...

Tudo em seus devidos lugares, se não fosse uma cena mórbida, que

foi capaz de trazer à memória a lembrança do holocausto, relembrando cenas de pessoas confinadas num vagão de trem, tentando a todo custo, agarrar o ar que lhes faltava nos pulmões...

O fato de ser nesta semana, tornara mais grave o quadro que se apresentava, visto que a crueldade estava ali, e bem explicita:

Era de cortar o coração, capaz de umedecer os olhos das criaturas menos sensíveis, que passavam em frente à grande caixa de vidro abarrotada de grandes peixes, animais ainda vivos, que em seus últimos momentos, arfavam desesperadamente,

em busca de oxigênio.

Lima