O MORIBUNDO

O sistema capitalista está na UTI, contraiu covid-19. Talvez sobreviva; espero que não.

Caso sobreviva não será mais o mesmo. Seu lado selvagem não poderá resistir ao solavanco; certamente será mais ameno, mais humano, outra coisa.

Seus defensores, capazes de refletir, sabem que se a situação permanecer em “lockdown” por um semestre inteiro, os primeiros a atacá-los serão seus protetores. Instaurado o pandemônio, ninguém defende outrem, basta que cada qual se proteja.

Não há defensores pessoais quando impera a selvageria, dinheiro na conta não é alimento e nem pode se transformar em víveres se os víveres forem escassos. Cada qual que busque o seu, com a esperteza de sua mente ou a força de seus músculos.

Vê-se que tal método não coaduna com seres humanos deste século XXI. Haverá de haver outros meios.

A mais capitalista das cidades do planeta enterra seus mortos em vala comum, “são os desvalidos” da moenda do sistema que ficaram para trás na corrida desenfreada para acumular capital. Não têm nada que lhes garanta um funeral com direito aos sobreviventes visitarem seu túmulo no futuro incerto.

Ricos e medianos que vagueavam pelo mundo e voltaram contaminados de seus périplos também foram isolados. Alguns, embora assistidos por profissionais dedicados, faleceram solitários entubados em modernos respiradores, “novinhos em folha”.

Estes, ao contrário daqueles, terão um túmulo para ser visitado, porém não tiveram companhia em seus funerais. Nenhum discurso exaltando seus feitos, o sacerdote de sua seita não lhes deu extrema unção, nenhuma oração de “corpo presente”. Apenas o ruído das pás dos coveiros a cobrir o féretro o mais rápido possível e o afastar-se para a devida desinfecção.

As autoridades do sistema moribundo apelam àqueles que ensinaram seus pupilos odiar: “que venham respiradores chineses em aviões russos trazendo médicos cubanos”.

Sim aqueles “comunistas” que, segundo a lenda, “almoçam criancinhas”, agora estendem a mão para socorrer seus detratores.

O sistema moribundo precisa falecer para que a humanidade sobreviva.