NARCISISMO NA PSICANÁLISE

NARCISISMO NA PSICANÁLISE

Os conceitos que mais me chamaram atenção na Psicanálise foram:

i) reserva narcísica: conjunto de memórias que o psique acumula para criar uma sensação de amor por si, principalmente as primeiras experiências de prazer e dor ao longo da infância;

ii) economia libidinal: contabilidade do psique sobre os estímulos da memória que trazem amor ou vontade de não existir;

Como bem o filme "Freud além da alma" demonstrou (filme que estava no YOUTUBE, até o momento da presente data de redação deste texto), Freud comparou a psique a um aparelho. Um aparelho material que existe dentro do cérebro, enquanto consciência e inconsciência. Aparelho que, atualmente, pode estar no cerebelo. Este aparelho físico que tem anatomia e fisiologia próprios (semelhante ao sistema linfático ou outros sistema do organismo) - buscando Freud fugir, dessa forma, da ideia metafísica teológica de espírito, alma ou qualquer conceito "sobrenatural".

A memória traumática dos 14 primeiros anos de vida, por esse motivo, seria como corpo estranho que o psiquismo procura fazer fagocitose (mandando para os porões do esquecimento da memória a suposta rejeição, mas que sempre persistem em aparecer nos sonhos e nos tiques somáticos).

A memória traumática fere, machuca, deixa "hematoma". Isto é uma tendência infantil. Uma pulsão irresistível ao narcisismo, que os pais e familiares, dependendo do perfil da família, estimulam. Estimulam muito ou pouco no bebê, na criança e no adolescente, enquanto morando e dependendo da economia doméstica - já que há um tendência (caso a caso) em repelir o adulto da dependência do sustendo. Sustento este desta economia familiar com seu arrimo (mãe e pai) ou arrimos (ambos). O contrário também existe: pais que não querem que os filhos saiam de casa.

Sendo assim, a memória traumática deixaria cicatrizes no narcisismo (o ego e sua necessidade de autoerotismo), gerando fantasias. Muitas delas de autodestruição ou fantasias delirantes ora de superioridade ou inferioridade, pois, conforme os estímulos que a criança e o adolescente recebem do meio, tornam-se, no extremo: "mimados" ou "fracassados", conforme os estigmas construídos na convivência. Todo tipo de relações afetivas entre familiares são muitas vezes patogênica, dentro do ambiente (que sempre tem uma liderança, ou seja, o preferido de um dos pais).

Fantasias narcisistas estas que afetavam a visão lúcida da realidade pelo neurótico. Ou seja: o ego tende a moldar o mundo exterior de forma a desenvolver neuroses ou masoquistas ou de narcisismo delirante (conforme estereótipos ou arquétipos que o sujeito escolhe para se defender dos ataques reais ou imaginários). Tudo em prol ao seu amor por si - lembrando sempre o papel estruturante da família nesta relação, que é mais intenso quando o sujeito depende da economia familiar e habita com os seus (exemplo da geração canguru).

Assim sendo, todas as lembranças de carícias (estímulos que provocam ASMR na pele, no couro cabeludo) que tínhamos de nossos familiares, de recompensas sociais (medalhas de esportes, desempenho escolar e outros signos de meritocracia social) que tivemos nos meios que vivemos, de nossas conquistas e manipulações amorosas (conforme nosso poder de persuasão do outro ou padrões de status de um grupo que fazemos parte), funcionavam como uma espécie de tecido adiposo.

Isto forma reserva de "glicogênio" para queimarmos, sacando-as da memória, nos momentos de escassez de carícias e de estímulos externos ao nosso ego.

Daí, na meia idade em diante, os indivíduos serem obrigados a se apegarem as memórias da infância e da juventude para manter o nível de amor por si, de descarga libidinal por si mesmo, num nível que não cause ansiedade e leve à depressão, ao suicídio, a vitimização, a agorafobia, ao auto preconceito (especialmente naqueles que não conseguiram chegar ao princípio de realidade freudiano ou mesmo a individuação, personalidade introvertida, de C. G. Jung).

Logo, fica extremante complexo saber de onde cada pessoa, com seus respectivos psiquismos, tira suas reservas de manutenção do narcisismo primário. Isto como condição de aliviar a ansiedade persecutória de inferioridade e medo.

Segundo Jung, aliviamos a ansiedade persecutória por meio da assimilação do pensamento mitológico, que a modernidade sempre combateu, desde o Iluminismo, por meio do racionalismo cartesiano e do niilismo existencialismo de Nietzsche ou Sartre.

O masoquismo, ou capacidade de se "automutilação" internamente, além do sadismo (que é a capacidade de provocar dor em outrem como forma de compensação de sentimento de desconforto interno) podem ser manifestações de total "magreza" de reservas libidinais.

Isso significa que muitas pessoas podem ter um universo sentimental carente. Carente este de lembranças ou memórias positivas (ou toques na pele, como o "cafuné", originário da língua banto afro-brasileira, ou dos prêmios escolares empresariais recebidos ao longo desta jornada existencial com "hora de chegada e hora de partida").

Por isso, vivem a compensar esta falta de "gordura erótica por si mesmo". São estas traduzidas em compulsões neuróticas que podem ser mau humor, glutonaria, toxicomania e outros comportamentos de difícil convivência social (inadequação involuntária da conduta).

O ego volta-se contra si. Faz isto buscando a neutralização dos pensamentos que não provocam amor por si, mas justamente o contrário. São indivíduos que não se adaptaram as expectativas do superego que, infelizmente, não foram eles que formaram, mas o processo de socialização e seus "clichês" de comportamento esperado.

LUCIANO DI MEDHEYROS
Enviado por LUCIANO DI MEDHEYROS em 11/04/2020
Reeditado em 08/01/2024
Código do texto: T6913605
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