O PROFESSOR É ANTES DE TUDO UM FORTE

Quem acha que educação é cara, que experimente a ignorância! A frase não é minha, é de um educador norte-americano chamado Derek Bok. Lembrei-me dela esses dias quando tive a oportunidade de ver o resultado de uma pesquisa atual sobre a leitura em nosso país. O resultado é desanimador, apesar de não podermos, de fato, desanimar.

Isso porque, infelizmente, muitas pessoas encaram a frase de Derek como uma receita e experimentam o gosto da ignorância. A ignorância é perigosa porque é como uma droga que mata lentamente, mas que dá a falsa sensação de estar alimentando. São Jerônimo fala da ignorância desejada, como a pior forma do gênero das ignorâncias. Aquela que o sujeito tem consciência, tem meios para eliminá-la, mas a ilusão do conforto que ela proporciona impede de que se tome uma decisão.

Por isso que ainda acredito no poder transformador da escola. Não que a educação esteja somente a cargo da escola, longe disso, mas porque sei que na escola temos profissionais que, muitas vezes, desconhecem fronteiras, enxergam pontes onde só se veem abismos, constroem o impossível com singeleza e sensibilidade.

A escola não é prisão, é fábrica de asas. O professor é um alquimista que transforma, com a poesia de sua didática, seres humanos em cidadãos. Por mais difícil que realmente esteja a situação da educação, essa missão nunca foi deixada de lado, mas fico triste quando não vejo o apoio que seria o grande up grade da educação: a participação verdadeira da família. Falo verdadeira, porque acredito que ir somente a reuniões de pais e mestres e, oportunamente, quando convocado não é o suficiente.

É preciso humanizar essa parceria entre escola e família. Fazer realmente que entendam que são complementares e indissociáveis. Lembro de uma conversa que tive com a mãe de um aluno. Convoquei aquela senhora para conversar sobre como as atitudes de seu filho estavam prejudicando o aprendizado dele. Assim que expus os fatos, ela virou para o garoto e, acreditando estar educando, disse “Coitado do professor, ele já ganha mal e tem que aturar falta de educação!”.

Se esse estigma do professor coitadinho é tão prejudicialmente propagado, cabe a todos nós recuperar a imagem do intelectual, resgatar a importância dessa profissão tão valiosa. E não me venham dizer que isso diz respeito apenas ao salário! Ter consciência de nossa posição de transformador na sociedade é uma premissa para o bom educador.

O professor não é um coitado, é um forte. Essa força deve advir de sua convicção, de acreditar sempre ser possível. Se a educação ruim gera bons telespectadores, a boa educação deve gerar bons leitores e isso só é possível quando reconquistarmos nossa paixão pedagógica. Aos que pensam o contrário, respondo, com ternura, como disse àquela mãe: “Coitado, não! Sou um intelectual, sou professor!”.