Diário de um enclausurado

Diário de um enclausurado

08 de abril – O poço.

Acordei com minha rinite alérgica atacada. Entretanto, em tempos de pandemia, qualquer alergia é motivo para o medo se instalar. A tranquilidade deixou de existir quando o espirro começou a retirar o silêncio de minha casa. Mas, meu corpo sabia que era apenas o mal que eu já estava acostumado a ter.

Deitei-me no sofá e aproveitei para assistir a um filme – O poço. Vi duas vezes. A primeira me impactou e preparei-me para ver mais uma vez. Agora, com caneta e papel na mão. A análise faz parte da minha vida.

Depois de analisar, dormi um pouco. Minha tarde foi uma soneca e descendo e subindo naqueles andares do filme. Alimentei-me, muitas vezes, com os restos dos andares superiores e, também, me fartei estando acima de muitos. A pandemia igualou todos e não vai escolher esse ou aquele. Estamos iguais diante do medo e do vírus.

Caí mais fundo nesse poço! Eu vi a cegueira nossa de cada dia e percebi que somos restos da fartura de alguém. Sou Quixoteano, mas tenho raízes também.

O livro e a faca, o que é mais forte?

A pureza está somente na inocência?

Estamos no fundo do poço! Mesmo aquele que ingurgita o melhor prato do menu, ainda, assim, come restos de alguém. O filme é a vida real!

Dormi com medo de ser alimento de alguém. Aliás, já faço parte da mesa de muitos.

Mário Paternostro