Diário de um enclausurado

Diário de um enclausurado

10 de abril – sexta-feira da Paixão

A vida lá fora mostra seu jejum e o pecado é perdoado pela falta de pecadores passeando pelo mundo. Em meio à pandemia, fiéis buscam respostas e proferem o apocalipse. Não, meus caros, Deus não tem esse sentimento humano. Não antropomorfizem o Divino, Ele não é alguém e, tampouco, alimenta-se de ódio para lavar os erros humanos. Nós somos o próprio inferno.

A igrejas, templos, catedrais em silêncio, mas a dor vocifera em cada um, dentro de seu próprio lar ; ou nas ruas. O mundo carrega a cruz e a vida mostra sus via crucis.

Não! Não podemos bradar “Eli, Eli, aba sabactani”! Apenas podemos, em silêncio, pedir piedade, pois não sabemos o que estamos fazendo. Nessa sexta-feira da paixão, o almoço em família ficou para depois. O judas não apanhará amanhã, pois estamos levando, hoje e depois de amanhã, o chicote do isolamento. Resta, apenas, vergar diante da situação e nos tornarmos mais humano. O antigo, não dará conta desse novo tempo.

A sexta-feira da paixão deve se tornar um símbolo para o nascimento do novo humano.

Mário Paternostro