PÁSCOA DE OUTROS TEMPOS
Nasci em uma Sexta-Feira Santa. Mamãe me contava que começou o trabalho de parto por volta das 14:00 horas e que, mais tarde, quando vim ao mundo, ela ouvia o som das matracas e dos cânticos da procissão do Senhor Morto que passava em frente ao Hospital e Maternidade Teresa Ramos, próximo à catedral de Lages – SC. As procissões ainda são uma tradição naquele interior.
Na minha infância, o período de Páscoa era cheio de atividades e surpresas. Somos uma família católica e os ritos da Páscoa, principalmente naquela época, eram seguidos com muita fé e devoção. Mas, para mim havia outros encantos nesse período.
Cerca de um mês antes, mamãe começava a guardar cascas de ovos de galinha, os quais limpava cuidadosamente, secava e depois pintava com carinhas de coelho. Acrescentava orelhas de cartolina colorida e enchia-os com amendoim torrado, descascado e passado por uma glacê de açúcar. Feito isso, cobria o buraquinho da casca do ovo com papel crepom, fazendo um delicado plissê. Como tudo era muito frágil, acomodava os ovos em cestas de cartolina ou papelão, que ela mesma confeccionava, forrando e enfeitando-as com papel colorido picado.
É claro que enquanto eu era bem pequena, não acompanhava essa atividade, pois as cestas eram uma surpresa para nós crianças. Ela as escondia pela casa e tínhamos que procurá-las no Domingo de Páscoa, quando, ansiosos, levantávamos bem cedo antevendo tanta alegria.
Mamãe trabalhava como professora e preparava essas bonitas lembranças à noite, devido à falta de tempo e para que nós não as víssemos antes da hora.
Na Sexta-Feira Santa, ficávamos proibidos de fazer barulho, com gritos e risadas. Ligar o rádio, nem pensar. Era um dia de silêncio e recolhimento. E ela nos ensinava os fatos bíblicos comemorados nessa data.
No Domingo de Páscoa, íamos todos à missa com nossas melhores roupas e depois voltávamos para casa a saborear o conteúdo dos ovos.
Que doce lembrança me vem hoje dessas imagens de um passado já distante, quando alguns dos personagens não mais existem. A simplicidade e a delicadeza daqueles tempos de Páscoa ainda têm a capacidade de emocionar-me ao lembrar com carinho de momentos tão amorosos em família, quando essa festividade ainda não estava contaminada pela propaganda, pelo comércio e pelo consumismo.