A MESMICE
A mesmice
Regina Barros Leal
Essa angústia que oprime o peito diante do caos que se apresenta avassalador carregando o ânimo de lutar.
Ao visitar uma amiga, Lúcia deparou-se com sua companheira lamentando-se da vida, da inalterabilidade do dia a dia.
O quarto estava na penumbra, uma pequena luz mal iluminava o ambiente. Um móvel antigo compunha o austero ambiente. Sentia a amargura desprendendo-se das paredes e espalhando-se pelos objetos do aposento.
Enquanto percorria o olhar pelo ambiente, ouviu sua amiga dizendo:
- É tudo sempre tão igual! As mesmas brigas, o mesmo ambiente acinzentado preenchido de senões infindáveis que me deixam tonta e quase não consigo raciocinar. Às vezes me vejo enroscada por fios invisíveis que me aprisionam em suas intricadas voltas, como um novelo em desalinho. Sinto que o tempo é longo, se eterniza em cada situação de desalento. E assim, me arrasta, rasgando minha alma aflita pelo desencanto.
- Minha amiga, esse sentimento faz parte da vida. O que gostaria de fazer? Pergunta Lúcia.
- Gostaria de poder mudar tudo. Recomeçar e pensar em flores colhidas ainda molhadas pelo orvalho da madrugada e sentir a alegria de uma adolescente ao descobrir o amor, com o peito arfando de desejos. Queria ter esperança. A doce esperança que torna e faz da vida uma permanente e infindável rede de momentos cheios de ternura e descoberta.
- Compreendo. Disse ao escutá-la
- Sabe Lúcia, mesmo que os conflitos existam, estes não podem abarrotar as existências humanas, a tal ponto que sufoque os nossos sentimentos. Às vezes, sinto-me cansada dos dias penosos, mas, contraditoriamente, percebo meu espírito teimosamente jovem, contrastar com o peso e a carga de tantas responsabilidades. Ah! Este sentimento forte de amar é que termina afastando o mau humor que teima em impregnar minha alma de desilusão. Hoje é mais um dos dias em que reconheço que os medos são superáveis. Enfim, é um paradoxo!
E dizendo isso, abraçou Lúcia forte, como que procurando um porto seguro.
Lucia disse:
- Tais sentimentos são temporários, transitórios, ocasionais. Tudo passa! Ela observou que dissera algo que lhe pareceu senso comum.
Passou um bom tempo com ela. Sua atormentada amiga, deitada em uma rede, balançando-se continuava a falar de suas perdas, dos ganhos na vida, dos sonhos perdidos, das grandes e angustiantes desilusões.
Durante um tempo, longo, demorado, carregado de dor, Lúcia tentava aliviar sua alma atormentada. O intento falseava a realidade. Só ela poderia mudar. Foi uma delongada conversa e Lúcia pode perceber feridas, ressentimentos, mágoa e desilusão. Ela insistia na tristeza que a consumia. Depressão! Uma dor diferente! Ela comentava que, por mais que se esforçasse ela voltava. Implacável. Indiferente à sua vontade. Algo indecifrável. Só sabe quem sente. E não disse mais nada. Fechou os olhos e ficou a pensar. Adormeceu.
Márcia saiu de mansinho. Depois telefonaria...