O BOM ENCONTRO

Enquanto aguardo uma consulta de rotina, observo duas crianças na sala de espera (sempre achei que esses lugares fossem indicados para estudos antropológicos). Elas acabaram de se encontrar, mas já há uma sinergia notória. As mães, atentas, acompanham com o olhar as brincadeiras improvisadas dos meninos. Um deles, pega duas revistas e, com movimentos e sons característicos, inventa um carrinho imaginário. O outro não demora para se juntar a ele na algazarra.

Os outros pacientes aguardam silenciosos, protegidos por seus aparelhos celulares. Eu fico admirando tanta espontaneidade. Um dos meninos, o mais elétrico, esbarra nas pernas de uma senhora com ar sério. Os dois agora correm, num pega-pega inesperado. Fico pensando na quantidade de encontros que terão ainda em suas vidas esses dois garotinhos.

Nossas vidas são compostas por encontros, alguns casuais, outros marcados. As pessoas que passam por nós, sempre acabam por nos afetar de alguma forma. Os encontros sempre são essenciais, por mais que os lamentemos, muitas vezes. Vinicius de Moraes dizia que “a vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida”.

Acho que mesmo os encontros mais simples, como o de duas crianças em uma sala de espera, são momentos oportunos. E até os desencontros resultam em algo inesperado e que podem trazer alguma reflexão. Martin Buber, filósofo austríaco, defende a tese do “bom encontro”, que é o momento em que duas almas se tocam e se melhoram. De verdade, acho que precisamos de bons encontros em nossas relações, mas que não possamos nunca nos esquecer que isso depende também de nossa capacidade de lidar com os outros e com as situações.

Para os casais amigos, sempre gosto de perguntar como foi que se conheceram. Quase sempre as histórias são curiosas e indicam uma possível casualidade. Como o encontro em uma sala de espera, por exemplo. Contudo prefiro não acreditar no acaso, somos seres constituídos por encontros.

Lembro sempre da musa inspiradora da inesquecível “Garota do Ipanema”, Helô Pinheiro. Passava ela na hora certa, no lugar certo, então houve o bom encontro “Tom/Vinicius/Helô/Ipanema”. Que encontro maravilhoso! Se um desses elementos não estivesse em consonância, não poderíamos hoje cantar “olha que coisa mais linda, mais cheia de graça...” Uma voz ao fundo chama meu nome. Termino por aqui que o meu encontro agora é com o doutor...