O PRIMEIRO BEIJO
Acabo de escutar a notícia: morre a atriz Vida Alves, sem contar o paradoxo presente na questão, o de morrer Vida, outra informação me inquieta, a perífrase que segue, conhecida por protagonizar o primeiro beijo na TV brasileira. Uma cena ou outra do velório, familiares e amigos saúdam a mulher que ela foi, percebem-se aplausos, os últimos aplausos a uma estrela...
Era década de 50 e Vida escandaliza aos privilegiados telespectadores da extinta TV Tupi com um inocente beijo, não um beijo apaixonado, desses de tirar o fôlego, mas um sutil encostar de lábios que entraria definitivamente para a história da TV brasileira. O fotógrafo se recusa a registrar a cena, julgando uma depravação o que via, apesar de toda sutileza do episódio.
Tanta delicadeza e candura se perderam ao longo do tempo, hoje assistimos à banalização não só do beijo, mas do sexo. Como se o único objetivo fosse o de chocar o público, cada vez mais acostumado às deselegâncias contemporâneas. Não que eu seja um conservador, mas uma dose daquela suavidade romântica, para mim, nunca deveria sair de moda.
Lembro de um trecho de uma música, de péssimo gosto por sinal, que dizia algo assim: “beijo na boca é coisa do passado, agora moda é...” não completo o verso para preservar a estima dos leitores, mas imaginem o pior. O beijo, singelo, cândido, quase pueril, não poderia nunca ser tornar “coisa do passado”, é algo a ser preservado, quase como um patrimônio cultural, motivo de orgulho.
Sou sim a favor do beijo e tudo que ele simboliza, como aquele (esse sim mais intenso) entre o marinheiro e a enfermeira, no meio da Times Square, que se tornou uma imagem icônica do século 20 por representar o fim da Segunda Guerra Mundial, um beijo para entrar para História como o de Vida Alves. Que todos nós tenhamos motivos para beijar, mas que por mais apaixonados que sejam os beijos, eles não percam a candura. Porque, como bem escreveu Quintana: “A vida fica muito mais fácil se a gente sabe onde estão os beijos de que precisamos”.