A UTOPIA DA ELEGÂNCIA
Se pudesse pedir alguma coisa, nesse ano que se inicia, pediria que as pessoas fossem mais elegantes. Elegância é a beleza dos gestos, é a leveza nos movimentos, é a harmonia da graciosidade. Engana-se quem acha que elegância está associada apenas ao vestuário. Há pessoas que não ficam elegantes nem com roupas de grife e outras que são elegantes com um jeans surrado. Tampouco está relacionada unicamente à beleza. A elegância é coisa vem de dentro e floresce em ações. Contudo, faltando elegância, que não nos falte nunca a educação. Educação é uma exigência, elegância um atributo.
E nesses tempos horrorosos que estamos vivendo, essa frase significa que estou ficando velho, o que mais vemos são demonstrações de falta de educação. Alguns agem com tanta naturalidade que chego a pensar que realmente não tiveram quem lhes ensinasse bons modos. O trânsito, por exemplo, é algo muito revelador nesse quesito. Você quer saber se realmente é educado, analise como se porta no trânsito.
Nele colocamos para fora nossos instintos mais primitivos e o egoísmo eclode. Exemplos não faltam, todos temos algumas histórias para ilustrar essa concepção selvagem ligada ao fato de estarmos comandando um automóvel. Muitos se sentem realizados no tráfego cotidiano, pois podem demonstrar toda agressividade e superioridade que em suas vidas banais e mesquinhas não conseguem.
Quem conhece Guarujá, por exemplo, sabe que a travessia para a cidade vizinha, Santos, é feita pelo antiquado e ineficiente sistema de balsas. Às vezes paro a observar o comportamento das pessoas nessa fila. Ali é possível constatar de onde vem toda nossa corrupção que tanto nos destrói. A todo momento, e com a maior cara de pau, vários motoristas “furam” a fila, demonstrando total falta de respeito para com as centenas de pessoas que estão aguardando. Alguns se revoltam, outros consentem para evitar maiores contratempos.
Noutro dia, durante a travessia da balsa, fiquei observando uma família que contemplava o mar durante a viagem. Isso é bem comum, sobretudo os turistas saem de seus carros para tirar uma foto e coisas do gênero. Percebi que o menino, por volta dos cinco anos, comia uma coxinha, depois de umas duas mordidas, com o apetite estragado, perdeu o encanto pelo alimento e inquiriu a mãe o que fazer com o agora empecilho. A mãe não titubeou: “Jogue na água!” Fiquei pensando no exemplo que está sendo dado a essa criança. O mar é lugar de descarte, o que não te serve mais despeje na natureza?
Por essa e mil outras razões, concordo que não há nada melhor que um pai pode dar a um filho que uma boa educação. E não estou falando de faculdade ou intercâmbios. Falo da verdadeira educação, que é a formação de valores, o bom exemplo, saber endurecer na hora certa, mesmo que às vezes perdendo a ternura. Colocar limites é formar caráter, é realmente se preocupar com o futuro. Ética é uma coisa que é absorvida ao longo de anos, por isso que temos tantos adultos mimados e mal educados, porque a família esqueceu seu papel, acreditou que matriculá-lo em cursos de inglês, de manhã; de música, à tarde e de natação, à noite, fosse formar um bom cidadão.
Tenho um amigo que me diz uma frase curiosa e engraçada, mas que carrega em si uma realidade cruel, ele diz: “Quando eu era criança, o professor mandava em tudo, então resolvi ser professor. Hoje que mandam são as crianças” É triste, pois revela a falta de respeito que persiste em nossos dias, crianças que vão ouvir o primeiro não do professor, pais que preferem dar razão a seus filhos, porque se acovardaram e renunciaram a autoridade que nunca tiveram. É triste, porque melhor que seja a escola ou a igreja, elas não podem suprir a ausência de uma família estruturada. Triste mesmo, porque não tendo educação, a elegância vai virar uma utopia.