Viscoso, mas gostoso
Tenho um amigo que me fornece uma infinidade temas para textos bacanas. Hoje mesmo voltei a escutar ele contando sobre algo que aconteceu com um parente seu. É cada história que aquele cara tem na memória, que já cheguei a me perguntar: o que seriam dos meus escritos se ele fosse escritor? Não que eu me considere um escritor, mas não seria legal ficar escrevendo sobre coisas já escritas por alguém. Padeço do mal humano que sempre quer ser o primeiro ou único.
Um tio seu que, na época, era chegado a um traguinho, saiu para beber com os amigos. Não sei se inventaram coisa melhor que beber com os amigos depois de um cansativo dia de trabalho. O tio do meu amigo morava no interior e trabalhava na roça; levava a vida ao estilo mais rústico possível. O dia certo ele não me revelou. Não tenho em minúcia a história.
Era a mais úmida época do ano, o que torna propício o aparecimento de uma ou outra lesma nas paredes de uma casa de madeira. Talvez a casa do tio fosse de madeira... não sei! Sei que ao chegar de uma tarde, em um sábado, de bebedeira com os amigos, ele pode conferir que tinha carne de porco para janta. O tio gostava sem medidas de um porquinho bem feito. Pensou em descansar um pouco, antes de pensar em saciar sua fome, todavia pode sentir o peso de cada copo virado em suas pálpebras e adormeceu logo em seguida. Durante a madrugada acabou por acordar; estava com muita sede e fome. Foi no escuro mesmo para a cozinha, para, daquela vez com água, tirar o pó da garganta. A água foi tomada na claridade da porta da geladeira mesmo. Como tinha na memória as disposições das panelas no fogão à lenha, foi, à passos lentos, até a panela que esperava encontrar o porco, tateando no escuro, ainda com efeito da bebida, pegou, mesmo sem chegar a abrir a panela, algo que estava dando sopa ali. Jogou o naco de carne na boca e voltou, mastigando, para a cama. Aquele deveria ser o porco mais mal cozido que comera em toda a vida. Passou um tempão tentando triturar a carne com os dentes para poder passá-la para o estômago. Depois de algum tempo sem obter sucesso em suas mastigadas acabou por cuspir seu lanchinho do lado da cama para poder voltar a dormir.
Dormiu um sono muito tranquilo. A surpresa foi quando ele acordou e viu ao lado da cama uma lesma toda mastigada.