SOBRE ARMÁRIOS VELHOS E QUINQUILHARIAS: NÃO FAZ SENTIDO

Minha terapeuta sempre diz: Se aproprie das experiências e compreenda que algumas delas já não fazem sentido para você. Tá, ok. Mas, o que é se apropriar? Um dia desses estava revendo umas histórias e caminhos dessa existência tão caótica e me recordei de pessoas, de gentes, de afetos, de tristeza, de tudo que talvez, e só talvez, poderia ter sido...

Só que tanta coisa nunca é, não é mesmo?

Então, lembrei de uma música, comecei a ouvi-la, e de um tempo em que as coisas tinham certa... Esperança? Será que é essa palavra? Não sei, me perco entre as palavras, em alguns momentos.

Porém, essa lembrança da música, das pessoas, do tempo me trouxe de volta a afirmativa que a terapeuta sempre me fala: “se aproprie das experiências e compreenda que algumas delas já não fazem sentido para você”. Eu abri algumas daquelas lembranças, sabem, e coloquei todas fora das caixas, tinha tanta poeira, coisa morta, podre e tinha uma certa beleza.

Então, ao passo que pegava cada uma daquelas lembranças, pude senti-las, era como se estivesse chegando no centro de algo vivo, de algo tão vivo que naquele momento eu só poderia me alimentar daquilo, depois poderia vir a náusea, mas, era necessário.

Enquanto eu degustava, indo do amargo, ao doce, ao salgado, ao insosso, ao agridoce, eu entendi que tinha conseguido me apropriar de tantas fendas abertas na memória. E, algumas não faziam mesmo sentido, precisavam deixar de ser algo dentro de mim, então, tirei a música que estava tocando e joguei o cd fora, a música também já não tinha sentido.

O caso é que a gente é sempre um armário velho e bagunçando, precisando se livrar de uma calça que já não serve, um moletom dos anos 90 e outras quinquilharias...