Inquisição Social - LGBT
Queria te dizer o quão belo é o liso dos teus cabelos... Porque foi apenas isso que vi nos últimos dias. O seu rosto insistia em se esconder dos meus olhos. Sem falar na tua pele que fugia do meu toque. Tive que me contentar com sua presença indiferente.
Até quando o inverno vai insistir em ficar no seu peito? Minha vontade é de força-la a correr novamente no jardim comigo. Aproveitar aquela manhã magnífica de primavera! Saltitar com a mangueira aberta e rolar pela grama sem se preocupar com a bagunça.
Bagunça foi o que você fez no meu coração...
Tudo o que vejo é somente suas curvas travadas, presas por um sentimento que ainda não descobri. Sua beleza amarrada por uma mágoa desconhecida. A culpa seria minha? O começo da nossa história foi perfeito, roteirizado como um poema de Gonçalves Dias. Sei que escondi a maioria dos meus defeitos, mas você também ocultou os seus. Agora vejo, não foi meu verdadeiro eu que te apaixonou...
Fitava minha expressão pelo reflexo do espelho. Quando te vi a me observar, ficamos pasmas por igual. Você fugiu a vista e encolheu os ombros, como se tivesse dado de cara com um ser assustador e se escondesse sobre os lençóis. Como se não o ver fosse lhe expulsar.
Cheguei a pensar que já não me amava mais.
–– Tu ainda me amas?
Você não moveu um músculo se quer. Imobilizada, não chegava a respirar. Perguntei novamente e o silêncio continuava. Avancei em sua frente. Encarando-a. Balançando seus braços e forçando uma resposta. O que vi foi uma expressão petrificada e melancólica. Nem Allan Poe seria capaz de descrever o medo imposto em seus olhos.
Por fim, uma única lágrima escorreu nas suas bochechas... Minha branquinha, qual o fardo que tanto carregas?
–– Deixe-me, eu suplico que me abandone...
Deixa-la seria como arrancar uma parte de mim e caminhar perdida por uma floresta tomada pelo breu. Era impossível. Por qual razão me expulsa?
–– Já não suporto o peso que é viver com o teu amor... Prometeste de não soltar minha mão, mas ela não estava presa à minha quando fui julgada por todos os monstros que vagueiam lá fora!
Depois de ouvir seu suplico, o lhe que dizer? Não sei. Abracei seu corpo aos prantos, acariciei seus cabelos suaves, puxei-a de retorno e encostei minha cabeça a tua.
–– Ouça o que te direi... Tu és a melhor coisa que aconteceu na minha vida. Não posso te deixar pelo medo de enfrentar aqueles que se acham justos de nos condenar ao inferno... Que me queimem viva por amar cada som que sai da tua boca.
Ela voltou a me abraçar, desmanchada em mim.
–– O amor que tenho por ti é imenso, e por ele serei capaz de tudo. Se quiseres chorar, que seja em meus braços... Certo?
O choro cessou... Seu rosto se afundou no meu cacheado flamejante, e te apertei mais ainda ao ouvir seu “sim” amoroso...