Q.I

Se em qualquer concurso, uma questão apresentasse como opções: o elefante, o golfinho e o macaco, para que eu escolhesse qual é o animal mais inteligente, eu, de pronto, responderia-NDA; estou convicto de que, de todos os animais, o mais inteligente, sem dúvida, é o pernilongo.

Posso até não ter sustentação científica no que afirmo, mas o fato de ser o único animal que toca violino, já é uma clara evidência de seus recursos intelectuais, e, na refinada elite, percebam que é um dom só revelado nas mais altas rodas. Eu não sei se movido pelo ódio que sinto ao me ver acordado, ainda que por uma refinada sinfonia, claramente ouvi no quarto o Toreador, En garde, de Georges Bizet.

Se até os grandes maestros têm apelidos carinhosos, e familiares, os pernilongos também são chamados de muriçoca, que até rima com paçoca, mas não tem nada de doce; esse aparte lírico teve, como propósito, a única intenção de tornar o assunto menos zumbido.

A perspicácia do insignificante mosquito você pode notar, na capacidade que ele tem de desaparecer, quando você pega uma toalha, por exemplo, como arma para caçar o inconveniente, ele simplesmente desaparece.

Justiça seja feita, tenho que dedicar um parágrafo à invisibilidade da qual os mosquitos, em pauta, são dotados; experimente seguir, por mais de um metro o drone maestro, ele some, e você se sente um idiota com uma toalha na mão, no meio da madrugada, derrotado por um bichinho inteligente, e invisível.

Existem toalhas, raquetes elétricas, tomadas e repelentes, só não criaram alicates que rompem as cordas do instrumento desse infeliz violinista, mas eles são afinados, são reconhecidos à distância.

Observem a carga, o manancial, o estofo, que o famigerado carrega com sua frágil aparência, quase que transparente; toda sua bagagem é motivo de estudos nas mais rotuladas faculdades e centros de pesquisas.

Temos que nos dobrar ao fleumático mosquito, à sua elegância, enquanto vivo ele não perde a música, não perde o ritmo, ele é, sim, implacável em suas investidas, mas indiferente a todos os palavrões, com que é homenageado madrugadas afora. A fleuma é o apanágio dos sabios

Roberto Chaim
Enviado por Roberto Chaim em 09/04/2020
Reeditado em 10/04/2020
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