DE REPENTE...
Pedindo licença ao poeta Vinícius de Moraes (1913 – 1980), vou compartilhar um dos versos do seu “Soneto da Separação” para dar início a este breve texto.
“De repente, não mais que de repente”, sentimos que somos todos iguais, sem distinção. Percebemos que a riqueza financeira, o orgulho, a ganância, a arrogância e tantos outros predicados, não servem para nada nesta breve vida que nos foi emprestada por tempo determinado. Todos sabem serem finitos, mas quase ninguém aceita essa verdade absoluta e, através de suas atitudes prosaicas, pensam em alcançar a imortalidade, seja consciente ou inconscientemente. E quando nos vemos diante de uma situação como esta que nos acomete em pleno século XXI, ficamos estarrecidos a ponto de nos transformarmos por completo, felizmente, para melhor. É o momento de colocar a mão na consciência, fazer uma retrospectiva da vida vivida até agora, analisar os prós e os contras, as nossas bondades e as nossas maldades, as prioridades e os objetivos futuros, nossa dedicação à família, enfim, tanta coisa a se perguntar que fica difícil lembrar de tudo, mesmo porque cada um de nós tem visões diferentes. Acho bacana estar acompanhando tudo isso aqui do meu canto, sem comentar e nem interferir em nada, mas com aquela ponta de dúvida e meio que ressabiado. Este filme não é novo e chega até a ser um clássico, não do cinema, mas da vida. Já o assisti várias vezes em ocasiões distintas e, assim como seus protagonistas (nós), o final é sempre o mesmo. E, qual é o final, afinal? Bem, afinal, o final é que, por tudo o que já vi e/ou vivi neste plano terrestre, sei que todas as mudanças pessoais, assim como toda e qualquer solidariedade, já vêm de fábrica com o prazo de validade determinado. E quando esse prazo chega à data de vencimento, simplesmente descartam-se as embalagens, ou seja, aquilo em que tentamos nos transformar. E, de repente, não mais que de repente, voltamos ao estágio anterior. Não fiquem bravos comigo pela ironia das minhas palavras antes de analisarem com calma este texto escrito durante meu consciente isolamento social, no meio do mato, numa cidadezinha do interior, onde felizmente existe UAI FAI.
******