crônica|corona
Testei positivo. Apesar de todos os cuidados que vinha tomando, quarentena, higiene pessoal, etc. Isso me deixou preocupado. Claro que isso deixaria qualquer um apreensivo. Mas ironicamente, isso me tornou famoso. Sim, fiquei muito famoso na minha cidade e meu nome estava em todas as bocas.
- Olhem! Lá está ele. Não cheguem perto dele.
- Vejam! É fulano, ele pegou o vírus.
- Tomem cuidado!
Até a minha namorada me ignorou. Quando soube que eu estava infectado tratou de botar máscara, luvas, portando numa das mãos álcool em gel, e pasmem... Até um avental de plástico.
Então eu perguntei: - Pra que isso?
- Eu preciso me proteger. Você não quer que eu fique doente também, quer ?
Disse ela.
Fiz que não com a cabeça e dei o assunto por encerrado.
Achei tudo aquilo um baita exagero, mas...
Confesso que me senti como Lázaro leproso*. Eu me sentia imundo quando todos me olhavam com desprezo. Virulento, lazarento. Hostilizado, todos me evitavam. Todos se afastavam de mim. Até meus entes queridos. Em vão eu esperava umas palavras de conforto, de carinho.
Parecia que todo o universo conspirava contra mim. Apesar disso, prostrado, com a alma abatida, não sucumbi.
Eu me curei, mas a ignorância humana, essa parece não ter cura.
*Refere-se a Lázaro mendigo e leproso
e não a Lázaro ressuscitado por Jesus.
ver Lucas 16: 19-31
Parábola do rico e Lázaro.
Edir Araujo
ISBN 978-85-913565-0-8
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Autor de A passagem dos cometas, Risos e lágrimas, A boneca de pano, Fulana (inédito) e muitos poemas, crônicas, microcontos e artigos publicados na web "ad aeternum".