EM TEMPOS DE CORONAVÍRUS
Ysolda Cabral
Nesta Vida sei que ainda faço a diferença de alguma forma. Sirvo para alguma coisa, sei que sirvo. - Trabalho, cuido da minha casa, da minha filha, minha vida - só nunca "cuidei" da vida de outras pessoas.
Sempre encontro tempo para ler, escrever, assistir bons filmes e seriados. Entretanto, quando a noite cai e o sono chega, eu rezo, converso com Deus e durmo tranquila. Por vezes o sono resolve passear, sem se chatear de me deixar leve e solta a perambular pelo meu " Mundo Poesia".
Sei que não sou perfeita, mas sou extremamente responsável, verdadeira, humilde para admitir que, muitas vezes, sou exigente, perfeccionista e até muito antipática, meio "tolerância zero", apesar do sorriso sempre a sorrir.
Sei que tenho um temperamento intenso, apaixonado, e, às vezes, me exaspero a toa, passando para as pessoas a impressão de ser grosseira. - Não sou! Sou apenas enfática e firme quando pisam no meu calo, mas estou aprendendo a controlar a dor.
Sou atenciosa, carinhosa, bem humorada, perdoo fácil e procuro ser perdoada quando, sem querer, magoo alguém.
Ah! Gosto de ajudar todo mundo, no que posso e quando posso, só não gosto de propagar. Apesar de tudo isso, estou começando a desconfiar que não sirvo é para nada; que perdi a minha própria referência, a minha poesia, a minha identidade posto que, já não sei quem sou e nem agrado ninguém.
Ora, se tudo que faço, falo e penso incomoda e tem um porém que imprime dúvida e de alguma forma é apontada como errado, fora de hora e termino sendo chamada a atenção, criticada, corrigida como se adolescente fosse, e, como não sou, deduzo que estou me tornando uma pessoa inconveniente que desagrada a todos.
Depois de ponderar, conjecturar, refletir sobre tudo isso, chego a triste conclusão que, quem me ronda, me sonda é a velhice. - Já viu velho agradar alguém?
Conheci poucos na vida que agradaram. A maioria é peso, é fealdade e em tempos de coronavírus é escolha fácil entre quem vive e quem morre.
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Apenas Ysolda