Anseios de um dia mortal.

Em todos esses anos nunca antes havia me encontrado com tal indagação. Mas hoje, como uma ressaca de setembro no mar decidir me perguntar; de onde vem a morte? Nos últimos anos está sendo constante a sua presença na minha vida, porém não conseguir ainda decifrar qual é sua verdadeira origem.

Considero pueril definir que a morte seja apenas a antítese da vida. Se vivemos logo morremos. Seria muito objetivo, e assim como a vida, a morte também é desprovida de objetivismo. Se a vida detém algum lirismo, diria que a morte é apenas um verso branco e brando no final do dia nublado de um mês qualquer.

Poderia dizer que a morte seja uma solução. Entretanto, as pessoas que acreditam na religião diriam que sou uma louca e que não detenho nenhuma espiritualidade, o que seria inverídico apenas para mim. Li em algum desses livros transformadores de vida que, vivemos a pressa do outro.

Assim sendo, a morte talvez viva a nossa intima pressa. A vontade de amar no primeiro contato visual. A vontade de cavalgar ao vento. A aspiração de um dia de chuva no sertão. A doce morte talvez seja a ansiedade que a felicidade causa nos seres humanos. Todos ansiamos a felicidade. Buscamos tanto que, as vezes, mergulhamos em profunda ansiedade e morremos sem saber o sabor que é vive-la de verdade.

Certo dia, ouvir recitar a crônica da felicidade, e agora relendo, entendi que ela ctraça reflexões que se encaixam nos finais morfiferos de um ser. Ela descreve os processos intuitivos da vida e propõe que o leitor não desista de viver, mas caso isso aconteça, comecem a trabalhar a ideia concreta que a morte seja um fim de um ciclo concluído. A partir do momento em que a morte é nutrida como uma missão a ser concluída volto a minha dúvida inicial. O porquê ela existe e de onde vem. Será do fim ou do começo?

O jovem que bebia no fim de semana com os amigos foi dopado por uma morte cruel. O seu sangue esvaiu-se. Estremeceu em um suspiro final, quando a morte invadiu o bar e assim levou aquela alma jovem e alegre. Morreu com um sorriso no rosto e um vazio no peito, pois não entendeu a sua rápida morte.

Noite passada, um senhor de 80 anos disse adeus a sua cuidadora. Hoje as 5:00h ele faleceu, leve como a folha que cai na primavera. Aceitou a morte? Não sei. Talvez os anos seja a resposta para entender a morte. Em outra teoria, fabulo que a vida seja o segredo da morte, se você viveu o suficiente, está feliz com o encontro final.

Imagino apenas aqueles que ainda não viveu. Todos os indivíduos que vive o medo alheio, e então fica no intermeio entre a vida e morte. A morte vence. A doença prevalece. A tristeza se estabelece e o temido fim chega, porque afinal a morte existe para nos atribuir a capacidade de indagar se vale a pena viver.

BranquelaAquarela
Enviado por BranquelaAquarela em 07/04/2020
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