"O POÇO" (BVIW)

"(...) Joaquim Prestes não se contentara mais com a água da geladeira, trazida sempre no forde em dois termos gordos, mandara abrir um poço.

Quem abria era gente da fazenda mesmo, desses camaradas que entendem um pouco de tudo. Joaquim Prestes era assim. Tinha dez chapéus estrangeiros... Afora aqueles quatro operários ali, que cavavam o poço..."

Ao ficar acocorado sobre as tábuas espaçadas que protegiam o poço, Joaquim derrubou a caneta - tinteiro e assim iniciou a “saga” dos operários para resgatá-la. O autoritarismo e o poder econômico de Prestes fez com que um dos rapazes mergulhasse, literalmente, na lama do poço em construção... A caneta, uma ordem seriam mais importantes que uma vida, segundo, as atitudes do fazendeiro.

O POÇO, na Literatura, Cinema,Teatro e Pintura têm muitos significados e reflexões, entre eles, esse mergulhar interior, buscando respostas e enfrentando medos, ou ainda, aprendendo a entender e conviver com nossas limitações.

Enquanto escrevia essa crônica, a chuva bem-vinda começou a acariciar o telhado, e lembrei-me da infância, do poço que havia na casa de uma família vizinha: a antiga caneca de ágata colocada sobre a madeira que tampava o poço inspirava-me sensações de um tempo sem pressa, outonais aromas...

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"O Poço" de Mário de Andrade faz parte da obra "Contos Novos" (1947).