Olhares

Mário Quintana, no poema o olhar, compara o último olhar do condenado ao olhar de Deus e do poeta. Segundo o escritor, não se trata de um olhar regado por sentimentos, tampouco, a ilusão de visões mosaicas. “Ao olhar do condenando nada escapa, como o olhar de Deus”. É um olhar amiúde com riqueza de detalhes, em relevo, e o pensamento fixo é a data de vencimento. A morte iguala todo o vivente, rico ou pobre, mas saber o dia e a hora, é característica masoquista. Ninguém merece morrer em dose fracionada e homeopática com efeito placebo. Nessa perspectiva é concentrada a atenção do moribundo, apertando o play diversas vezes e brincando de achar os setes erros; os seus pecados mortais. Já o maravilhoso arquiteto do universo, Deus, tem um olhar eterno, e uma memória terabytes. De uma precisão ímpar, pois só Ele é capaz de encontrar uma agulha em meio ao palheiro. Nada pode ser escondido do olhar de Deus, Ele sonda o nosso eu e conhece as nossas fraquezas. Por outro lado, o poeta consegue ver nas entrelinhas palavras que não foram ditas, sentimentos ocultos; e lembranças perdidas. Ele é especialista em encontrar nuances que acalmam a alma e faz bater o coração. O poeta transita entre os dois mundos; ele ver mais longe que os olhos, vê no tempo a eternidade.