O QUE DEUS NOS RESPONDERIA?

Dá um sentimento esquisito de ver as pessoas andando pra lá e pra cá em um frenesi lento, envoltas nas máscaras que tapam suas bocas, mas não protegem, muitas vezes, suas próprias línguas.

O ser humano, para tirar sua máscara de descaso com planeta, está colocando máscara para poder sobreviver nele. Quanta ironia de um destino que foi, muitas vezes, anunciado pelos poderes do alto, não é?

Dá-se a impressão que a vida está em "slow motion" e até os passarinhos estão voando timidamente.

Um silêncio sepulcral toma conta dos ares e das ruas vazias.

Estamos vivendo um tempo tão estranho que parece que a natureza está contra nós.

Não vejo alegria entre as árvores quando o vento toca em suas folhas. Que tempo esquisito é esse?

Nunca imaginei que o fim da humanidade poderia ser através de um silêncio absurdo, sem explosões de bombas ou gritos de despero, mas de um invisível silencioso que causa terror.

Os rostos tapados por panos e o medo de abraçar e beijar é angustiante.

Se perguntarmos para Deus o que fizemos por merecer, o que Ele responderia?

Basta olharmos através dos muros ensanguentados dos matadouros onde trucidam os inocentes animais; basta vermos o descaso com o desmatamento em prol de uma riqueza vã; basta visualizarmos os corredores dos hospitais lotados por conta de uma má distribuição de renda; basta inclinarmos os olhos com desprezo para com nosso irmão faminto; basta não termos mais lágrimas verdadeiras para chorar por quem sofre; basta ridicularizarmos o que poderia ser conhecido por ato de amor.

O amor gelou a uma temperatura baixíssima e quase morreu de hipotermia. Será que seria isso que Deus nos responderia?

Será que isso tudo não está acontecendo porque fizemos um grande descaso com a vida durante décadas ou séculos?

Eu, nesses dias de quarentena, confesso que estou mudando muito meus pensamentos: muitas coisas que eu dava valor, hoje perdi o interesse e, outras que achava cotidiana demais, hoje acho ser imprescindível em cada momento de minha vida. Terei saudades do que sentirei saudades!

Quando criança, pensava que o mundo acabaria em fogo, talvez por ataques bélicos de países poderosos, como no tempo da "guerra fria" entre a União Soviética e os Estados Unidos e, hoje, vejo que nós, cada um de nós, somos responsáveis pelos atos que cometemos contra a vida que teima em continuar vivendo neste planeta tão judiado pelo nosso próprio descaso! Nisso tudo, somos mais parecidos com guerrilheiros sanguinários do mal do que soldados que lutam o bom combate em favor do que é bom! Tomara que, nossa farda, seja composta de um cantil para podermos dar água para quem tem sede e, sede, de justiça!

Oxalá, que essa pandemia se transforme em verdadeiro aprendizado para nós, numa sobrevivência espiritual, como se fora nossa própria ressurreição para o bem!

De fato, a Terra parou, não, por um dia, como dizia Raul Seixas, mas um dia que está levando dias demais, não é? Até quando serão esses dias?... Até quando?!