Causo
Ter o nome de um mágico não faz de você um habilidoso nas artes circenses e aprendi isso muito cedo, já na escola, quando tentava demonstrar que de alguma maneira o nome tinha alguma influência sobre os meus dons e talentos. Óbvio fracasso! Cresci carregando o carma de me chamar Harry Houdini e tudo isso porque minha mãe assistiu a um programa desses que passam nas tardes interioranas em que o famoso escapista se apresentava. Pah, eis que ela decidiu ali, na hora, que eu me chamaria Harry Houdini. A pior parte disso tudo foi na hora de dizer isso para o juiz no pequeno cartório de nossa cidade. O homem arregalou um par de olhos por debaixo dos óculos e ficou quase meia hora tentando soletrar o tal nome estrangeiro que meus pais arrumaram para o filho caçula. Bom, fato é que não ficou tão bonito escrito como é falado, né. Mistérios da língua! Eis que, dia desses, me deparei com minha antiga certidão de nascimento e vi lá escrito em letras de imprensa: Henrique Houdinei. Sim, meus amigos, ficou assim mesmo! Não, não é piada nenhuma, é fato verídico e verdadeiro, sem nenhuma gota de causo nordestino. No fim das contas, ficou lá nos anais da história de Passo Fundo o nascimento de um famoso... pós morte. Mas, voltando ao carma... eis que, desde pequeno, sofri isso que os educadores modernos hoje chamam de bullying, mas que a gente dizia ser troça. Os meninos não perdoavam e as meninas não ficavam nem um tico atrás. Nisso, eu cá, tirado a muito esperto, resolvi por a prova minhas práticas mágicas e tudo que consegui foi uma sonora vaia da plateia que se resumia mesmo a alguns colegas e a perplexa e envergonhada professora. Pah, virei professor, do meio pro fim, e descobri que, querendo ou não, virei um pouco mágico, quase palhaço e bem malabarista.