O vômito

Em uma loja no centro da cidade, o balconista conversava com o cliente. De súbito, o balconista interrompeu a conversa e, em seguida, vomitou no balcão. Os demais funcionários imediatamente prestaram socorro a ele. Ao se depararem com o vômito escorrido no balcão, todos eles, um a um, começaram a vomitar também. Enojado com tudo aquilo, o cliente saiu às presas da loja e, no meio da calçada, descarregou seu vômito. Os passantes, vendo a cena, também começaram a vomitar. O vômito na calçada provocou o vômito de muito mais gente nas ruas.

O efeito dominó fez com que todas as pessoas fossem vomitando instantaneamente. Quanto mais as pessoas vomitavam, mais outras começavam a vomitar. Pelas ruas da cidade, só se via vômito. A população inteira vomitava incessantemente. Começaram a aparecer casos em cidades vizinhas. As televisões noticiavam o fato inusitado. Os próprios jornalistas vomitavam após darem as notícias. Vários especialistas de saúde vinham a público tentar explicar o ocorrido. O fato é que nem eles sabiam explicar o que estava acontecendo, e vomitavam antes mesmo de terminarem a entrevista. O número de casos aumentava drasticamente. O surto de vômito virou problema de saúde pública no Brasil e no mundo. Era manchete em todos os jornais.

Com o tempo, todos passaram a se acostumar com a quantidade de vômitos diários. Houve então uma mudança de hábitos. O balde passou a ser um utensílio obrigatório ao sair de casa. O babador e o lenço também viraram objetos bastante utilizados. O vômito ganhava espaço no dia a dia de cada cidadão.

A vontade de vomitar era algo incontrolável. Era só começar a falar que dava logo vontade de botar tudo pra fora. Até o presidente danou a vomitar durante o seu pronunciamento em rede nacional. O caos estava instalado. Era falar que o vômito vinha. Os especialistas chegaram à conclusão que o jeito era ninguém falar mais nada. A população entendeu o recado. Cada um teria que fazer a sua parte para que o vômito cessasse. E assim, o vômito cessou de vez, mas todos ficaram sem trocar uma palavra com ninguém.

Fábio Rodrigo
Enviado por Fábio Rodrigo em 06/04/2020
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