Pensar não é para os fúteis

    Meus pensamentos não se aproximam dos meus olhos. Eles nem ousam, conhecem os perigos que os ameaçam. Como foi trágico para Sansão trazer seu segredo aos ouvidos de Dalila, assim seria aos tais, desnudarem-se pela luz banal dos meus olhos. Eles servem-se do som de minha voz para trazerem à superfície algumas porções de sua força, nunca a sua essência.
     A luz frívola dos olhos, ah!, esta jacta-se achando ter descoberto os segredos do pensamento, enquanto tudo o que conseguiu foram algumas lufadas de seu sopro, umas pegadas embaralhadas, propositalmente deixadas, a fim de confundi-la.
    Se algum dia o pensamento aparecer na janela dos olhos, esse dia entrará para o rol dos abomináveis. Assim como foram o dia em que Eva comeu o fruto proibido, o dia em que Caim matou Abel, o dia em que Cam viu a nudez de seu pai, Noé. Será mais um dia de triunfo do profano sobre o sagrado, um dia de trevas e maldições.
    Mas o pensamento segue sempre seguro na brilhante escuridão do inacessível mundo em que construiu seus caminhos, intrincados e solitários, é verdade, porém, infinitamente distantes das mãos abjetas dos homens fúteis.