O Poder do Silêncio
Trancados com a falta do que fazer, ou no mínimo do fazer com propósito, de produzir algo que dê algum ganho, um retorno, vira um vazio quando passa o tempo e o tempo não passa.
Nesse quarto, que aparentemente nada me falta, e espero que não lhe falte também no seu, o que já é uma primazia num mundo inundado de desigualdades sociais, o vazio quase se instala. Digo quase, graças a minha expertise de saber estar sozinha que trago a nível de PHD em tempo e também por escolha. Mas nem sempre as coisas correm tão bem mesmo para mim, pois família, arrisco dizer, é uma faca de dois gumes, sendo que há vários níveis de fios deixando uns muitos mais afiados que outros. Quando nela o mundo se fecha, como agora, de quarentena, a gente se vê trancada e com ela. Esqueço que em pequena não reclamava. Com alimento, um lugar para dormir e brincar, sem escolha e muita inocência era o melhor lugar para se estar. Hoje, já amadurecidos e quase envelhecidos, sobraram só as cascas, talvez porque a seiva nunca foi bem cultivada. Cansados de estudar e analisar e reclamar e debater e desistir de falar, viver em família é o teste mais longo da vida com os alunos mais teimosos de todas as salas. E não adianta tentar burlar, fugir antes do tempo, pois eis o que pode acontecer, você volta, vai para a recuperação e pode dar de cara com os piores alunos da sala, os mais temíveis.
Entre a solidão e a convivência forçada fica difícil de escolher, mas está aí e como não há o que fazer, entendo que o melhor é o silêncio.
O silêncio porém têm suas diferenças. Junto com ele vem uma série de caracteres de comunicação. Portanto, não basta silenciar no sentido físico, fechar a boca. Como princípio, já é uma vitória, mas não basta. O que ocorre é que esses caracteres trazem sinais perceptíveis que… também falam. Através de sensações, gestos, olhares e até pensamentos você estará dizendo o que seguramente falaria e acaba dando no mesmo, mesmo que de forma mais velada.
Fazer o que nessas horas então em que não se pode escolher o sentimento e quando pior, existe uma esmagadora mágoa?
Pego livros de ensinamentos nos quais acredito extrair sabedoria, reflito, umas gotinhas de floral ajuda bastante, mas servem apenas como paliativos, pois a questão não está resolvida, mesmo porque a razão é sempre dúbia quando todos nós temos um motivo para errar, mesmo que não seja essa a melhor maneira.
Só existe um meio.
Mergulhar no silêncio profundo mas em direção oposta, de fora para dentro. O que podem chamar de meditar. Não importa se já tem nome, mas o que faço é prender-me ali por um bom tempo, até a necessidade me fazer emergir do fundo para respirar. Estarei assim, ávida de ar! Um ar qualquer. Um ar de sobrevivência, que não escolhe, apenas aceita e agradece poder retornar.
E de repente, o que está em torno, parece satisfatório, suficiente para continuar.