BATE-BOLA RÁPIDO COM UM ALUNO DO 5º ANO FUNDAMENTAL SOBRE LEGALIDADE E LEGITIMIDADE
Eu:
– Eu não tô entendendo é mais nada: quem era a favor do Estado mínimo, agora, diz que só o Estado pode salvar a nação; servidores públicos que, antes, eram chamados de parasitas, agora, são exaltados como heróis; quem batia palmas para o Mito nas praças e avenidas, agora, bate panelas nas sacadas e janelas e, por fim, mais essa confusão entre quem tem mandato e quem é Mandetta. Por favor, alguém me atualiza?!
Aluno do 5º ano fundamental:
– Realmente, cara pálida, pode parecer confuso. Mas é relativamente simples: basta você não confundir homem de mente com homem demente, nem, mente triunfante com mente a todo instante, ou, legalidade com legitimidade.
Eu:
– Como assim? Continuo não entendendo.
Aluno do 5º ano fundamental:
– É simples. O presidente, por ter sido eleito, tem legalidade, mas não tem legitimidade. Na Democracia, o voto assegura a legalidade, mas só o apoio popular garante a legitimidade.
Eu:
– Sim. Exatamente. E ele não foi eleito pela maioria? Como, assim, não tem apoio popular?
Aluno do 5º ano fundamental:
– Isso mesmo. Você aprendeu fração, não aprendeu? Então me responda que fração representa a maioria de um total que fora dividido em 3 partes iguais: 1/3 ou 2/3 do total?
Eu:
– 2/3, é claro!
Aluno do 5º ano fundamental:
– Bingo! Então você consegue entender, sim, o que está acontecendo. É bem simples, como vê concluiu por si só. Ora, se no País havia 150 milhões de eleitores aptos a votar por ocasião da eleição que o levou à Presidência, porém apenas 54 milhões votaram nele, onde está, de fato, a maioria (favorável ou contrária ao seu projeto)? É lógico que ninguém pode tirá-lo do cargo apenas porque a diferença entre ele e seu principal adversário fora de menos de 5 milhões de votos. Isso se chama legalidade. Porém, ser eleito não é suficiente para ser um bom gestor. Além da vitória nas urnas é necessária a vitória nas ruas (ou como se diz num bom ‘futbolês’: não basta vencer, tem que convencer); ter a empatia e a aprovação da maioria da população (ainda que para isso, quase todos a engane sempre) às políticas implantadas e seus respectivos resultados na vida de todos – ou pelo menos da maioria. Isso se chama legitimidade; ou seja, aprovação por maioria não apenas dos votos validados, mas dos votantes em sua totalidade.
Eu:
– Entendi. Quer dizer, então, que, por ter consciência de que seu Governo é constitucionalmente legal mas não é democraticamente legítimo é que o presidente, dentro de uma crise, sempre arruma logo um jeito de criar outra – de preferência, mais grave – para, assim, sensibilizar seus seguidores, numa tentativa de atrair mais gente para ultrapassar o “1/3 da pizza”?
Aluno do 5º ano fundamental:
– Exatamente! Bom garoto! É isso mesmo. Assim, pensa ele e seus orientadores: consegue, como se diz, matar dois coelhos de uma cajadada só: desvia os olhares da crise real para a artificial (mantém os críticos ocupados e a Imprensa distraída) e, por outro lado, infla seus veneradores para se unirem na força-tarefa hercúlea de ultrapassar o 1/3 de seguidores. E nesse “jihad”, vale tudo: desde espalhar centenas de notícias falsas através do seu exército de robôs à convocação de oração e jejum, passando por demonização da Imprensa, intriga com outros países, enfraquecimento (e, se possível, a queda) de ministros que possam atrair mais a atenção do que o presidente e até sucessivas convocações da população para exigir o fechamento do Congresso e do STF.
Eu:
– Ah, entendi, Quer dizer que essa é a razão das crises dentro da crise?! Entendi. Mas, com o perdão do cacófato, e essa treta com o Mandetta?
Aluno do 5º ano fundamental:
– Simples. É porque, segundo o próprio Mandetta, enquanto ele somente trabalha, seu chefe só mente fala.
Mas isso é outra história.
Segue a marcha!